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A Galeria Nara Roesler tem  o prazer de inaugurar a terceira exposição do Antonio Dias em sua sede paulistana com uma apresentação histórica dos papéis do Nepal produzidos entre 1977 e 1997.

 

Com abertura em 2 de abril, a mostra é a consolidação do programa nacional da galeria, pois seu conjunto de obras foi exibido primeiramente no espaço do Rio de Janeiro, entre agosto e setembro do ano passado. Essa estratégia de excursão da individual em ambas as sedes se justifica pela importância da produção de Antonio Dias na história da arte brasileira e pelo ineditismo dos trabalhos, que serão exibidos pela primeira vez em São Paulo, como foram no Rio.

 

A exposição marca também o lançamento do novo livro do artista, Antonio Dias, editado pela Associação para o Patronato Contemporâneo, com um bate-papo entre Dias e Paulo Sergio Duarte, autor de um dos dois textos incluídos na publicação.

 

Os trabalhos que figuram na exposição foram produzidos durante uma viagem de Dias ao Nepal em 1977, com a finalidade de aprender a manufatura de papéis artesanais. A fase do Nepal é uma ruptura na trajetória pregressa do artista, calcada fortemente no conceitualismo; na utilização de mídias então incipientes, como o vídeo; e na criação de um léxico visual que englobava elementos pop, planos geométricos definidos por cor e palavras.

 

Esse repertório, repetido sistematicamente e embaralhado entre si, questionava o caráter da convenção social e da instituição artística como produtora de significados codificados e estanques, validados por um sistema de inserção e representatividade internacional, a que o regional deveria se submeter - o que se tornava evidente pelos títulos em inglês das obras, como a famosa série The Illustration of Art. 

 

Mais do que serem suportes, os planos geométricos de papel artesanal são obras em si. Suas cores resultam da adição, durante a fabricação, de elementos naturais - como chá, terra, cinzas e curry -, incorporando o processo de produção como componente e significante dos trabalhos. Realizados em conjunto com artesãos de uma fábrica de papel nepalesa, subvertem a questão da unidade autoral tanto em sua gênese quanto em seus títulos, atribuídos por alguns dos trabalhadores, a exemplo de Niranjanirakhar.

 

Ou, como o próprio artista definiu em uma entrevista, "O que mais me interessa é a relação entre a produção desse trabalho e de seus produtores... Ao mesmo tempo que se empenhavam materialmente na produção, alguns deles também imprimiam uma leitura simbólica ao produto".

 

A palavra nepalesa Niranjanirakhar, que significa Nada, é uma boa síntese da ambivalência de sentidos desse grupo de obras. Se em sua premissa pós-conceitual e processual reiteram a necessidade de construção da significação pelo espectador, provocando a consciência e a postura ativa para além da superfície imagética, trazem um silêncio quase místico, por sua materialidade imperfeita e orgânica. Além da contaminação de significação pela territorialidade, tema caro ao artista.