grand palais, 18 - 20.10.2024

art basel paris: booth p2 | premise sector

Tomie Ohtake
Sem Título, 1962
tinta óleo sobre tela
75.4 x 117.8 cm

sobre

Para a Art Basel Paris, a Nara Roesler tem o prazer de apresentar um projeto com obras selecionadas de dois artistas brasileiros pioneiros do século XX: Tomie Ohtake (Japão, 1913 - Brasil, 2015) e Chico Tabibuia (nascido Francisco Silva Morales, Brasil, 1936-2007).

Embora sejam radicalmente diferentes em suas origens e realizações estilísticas, Ohtake e Tabibuia compartilham uma conexão profunda, representando duas fontes não ocidentais de inspiração espiritual para suas artes: Ohtake, uma imigrante japonesa no Brasil, e Tabibuia, um criador iletrado de arte bruta, inspirado em suas origens afro-brasileiras diaspóricas.

A alteridade que permeia as obras de Ohtake e Tabibuia ressoa formalmente por meio de uma estranha coincidência: a persistência de formas orgânicas em estruturas híbridas. Nas pinturas abstratas de Ohtake, essas formas são arredondadas e levemente antropomórficas, enquanto nas esculturas de Tabibuia, elas são sexualizadas e anamórficas, muitas vezes apresentando corpos siameses hermafroditas.

A sutileza das pinturas de Ohtake contrasta com a sinceridade literal das esculturas de Tabibuia. No entanto, ambos os artistas exibem um repertório de corpos e formas bifaciais, caracterizados pela presença de fissuras, formas aninhadas, estruturas interconectadas e superfícies curvas e amplas. Esses elementos articulam suas composições — abstratas, porém orgânicas no trabalho de Ohtake, e orgânicas, porém misteriosamente de outro mundo nas obras de Tabibuia.

Conhecida por desenvolver seu estilo único pintando com os olhos vendados, a abordagem metafísica de Ohtake à abstração, inspirada pela filosofia Zen, sempre resulta em formas que emergem com uma gravidade reveladora e sacerdotal. Como notou o poeta Theon Spanudis: "Algo muito importante, secreto e silencioso é comunicado."

Em contraste, Tabibuia, que trabalhava como guia de pessoas cegas e como marceneiro, afirmava que todas as suas obras, influenciadas por elementos simbólicos afro-brasileiros e retratando frequentemente a divindade central Exu, eram sempre o produto de visões em sonhos.

Além de apresentar o trabalho da chamada "primeira-dama da arte brasileira", como Pietro Maria Bardi se referiu a Tomie Ohtake, este projeto também marca o retorno das obras de Chico Tabibuia ao Grand Palais, onde suas esculturas foram exibidas na histórica exposição Brésil-Arts Populaires em 1987. Como observou Emanuel Araújo, seu trabalho "representa a continuidade de uma presença africana diaspórica na arte brasileira".

Ao unir as polaridades representadas por esses dois grandes artistas, nosso projeto curatorial busca enfatizar a importância do "estrangeiro" e o profundo impacto que as tradições espirituais não ocidentais tiveram na produção simbólica no Sul Global. Essa tradução de influências culturais resulta em uma complexidade negligenciada da arte moderna, que vai além das coordenadas do Atlântico Norte.