Depois de criar intervenções na Galeria Nara Roesler do Rio de Janeiro em 2015, Daniel Buren traz, desta vez, trabalhos inéditos para a sede paulistana. O consagrado artista francês apresenta obras especialmente concebidas para esta exposição, que será inaugurada no período da SP-Arte. São nove conjuntos de objetos tridimensionais de parede, com jogos de espelho, compostos de 8 a 14 peças cada um.
Daniel Buren que, no Brasil, também participou da Bienal de São Paulo (1983 e 1985) e de mostra no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (2001), abandonou a pintura em 1965 em favor de uma arte fortemente conceitual, calcada na economia de elementos. Começou usando material de cortina listrada, cujos componentes se tornaram a base da sua sintaxe artística - listras verticais de 8,7 cm de largura brancas e coloridas alternadas.
Com a sua marca registrada, de uma economia de meios que surpreende por gerar tal riqueza e complexidade, o artista foi desenvolvendo sua pesquisa em diversos suportes, passando a conquistar também a arquitetura dos espaços. Com seu padrão singular, desloca ou ressalta sancas no teto, paredes, colunas e outros elementos.
O desdobramento da marca registrada de Buren em colunas foi uma nova evolução, gerando instalações icônicas, como a colunata listrada de preto e branco que povoa o vão central do Palais-Royal em Paris desde 1986. A peça abriu o debate sobre a implementação de obras contemporâneas em prédios históricos, a exemplo da pirâmide do Louvre, do arquiteto Ieoh Ming Pei, cuja construção foi concluída três anos depois do trabalho de Buren.
Também passou a utilizar jogos de espelhos e transparências para permitir a reflexão da luz e a projeção da cor dentro dos ambientes, como na incrível instalação criada para o Grand Palais em 2012. Nela, a claraboia foi acrescida de vidros azuis alternados aos transparentes, projetando uma padronagem xadrez sobre o chão. Ainda, inúmeros discos de vidro coloridos dispostos sobre colunas permitiam ao público passar por baixo deles, aumentando os efeitos de cor.
A rua é um de seus espaços preferidos hoje em dia. Ele inventou a noção de site specific no campo das artes plásticas para caracterizar uma prática intrinsecamente ligada à especificidade topológica e cultural dos lugares onde a obra é apresentada. Suas obras mais recentes são instrumentos arquitetônicos cada vez mais complexos que dialogam constantemente com a arquitetura existente, envolvendo uma alteração de espaço, uma multiplicação lúdica de materiais (madeira, vinil, materiais plásticos, grades) e uma explosão de cor. Desde o início da década de 1990, a cor não era mais apenas aplicada às paredes, mas literalmente "instalada no espaço" na forma de filtros e folhas coloridas de vidro ou acrílico.
Até hoje Daniel Buren produziu milhares de sites specifics em todo o mundo. A maioria destas obras são destruídas após serem apresentadas e, portanto, não existem fora do tempo e do espaço para o qual foram concebidos. No entanto, há também um importante corpo de obras permanentes nas coleções dos principais museus em todo o mundo.
A individual no Apollinaire em Milão em 1968 e a participação de Buren nos eventos internacionais da Prospect em 1968 e 1969 em Düsseldorf marcaram o início real de sua celebridade artística. Nos anos 70 começou a mostrar seu trabalho em museus, muitas vezes fora de França, e em mostras voltadas à arte conceitual. No mesmo período, suas obras começaram a utilizar os mais variados suportes - paredes, portas, cartazes, placas de rua, papel e lona sob vidro, escadas, trens, navios, sob a forma de bandeiras nos telhados de Paris, coletes de curadores de museus, etc. Ele foi um grande ponto de conversa e gerou controvérsia em 1971 na 5ª Exposição Internacional do Museu Guggenheim em Nova York e em 1972 na celebrada Documenta V organizada por Harald Szeemann. As mudanças políticas na década de 1980 permitiram-lhe ocupar os espaços públicos de uma forma menos fugaz, e ela começou a produzir obras permanentes. Em 1986 foi premiado com o Leão de Ouro pelo melhor pavilhão na Bienal de Veneza