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“Assim como a arte está internalizada na sociedade, a arquitetura que a expõe é definida pelas necessidades da sociedade como um todo e pela arte enquanto necessidade institucional. A arte enquanto instituição produz significados e posições que regulam e contêm a experiência subjetiva das pessoas situadas no interior de suas fronteiras” – Dan Graham, “Arte em Relação à Arquitetura / Arquitetura em Relação à Arte”, Artforum, 1979

 

A Galeria Nara Roesler | São Paulo tem o prazer de apresentar a primeira individual de Dan Graham (n. Urbana, IL, EUA, 1942) em seu espaço. A mostra exibirá Wave Form I (2016), obra criada especialmente para a ocasião, além de seis maquetes Sem Título (2011-2016) e o vídeo Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005). Paralelamente à exposição, a Galeria Nara Roesler, em colaboração com o MIS , apresentará dois vídeos emblemáticos de Dan Graham: Rock My Religion (1983-1984) e Don’t Trust Anyone Over 30 (2004). As sessões acontecerão no auditório do MIS -  Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, no domingo, 13 de agosto de 2017, às 16h, sendo seguidas de mesa-redonda com Marta Bogéa, Agnaldo Farias e Solange Farkas, que conduzirão um debate sobre a obra do artista.

 

Apresentada no mundo todo, a série Pavillions de Graham é representativa de seu envolvimento crítico com os parâmetros visuais e cognitivos da linguagem arquitetônica dentro e fora das instituições de arte. A exposição contribui para elucidar a obra do artista, que desde a década de 1960 realiza experimentos multimídia envolvendo performances, vídeos e arquitetura, no sentido de refletir não apenas sobre as instituições de arte e seu contexto comercial, como também sobre as implicações sociais das estruturas de consumo, representação e comunicação.

 

Ao despontar na cena artística nova-iorquina durante a década de 1960, Graham detectou, na prática dos artistas minimalistas, uma semelhança com o funcionalismo na arquitetura, já que ambas as correntes acreditavam na forma “objetiva” e “negavam o significado conotativo e social e o contexto de obras de arte ou arquiteturas circundantes”. Desde 1976, o artista produz Pavilhões (Pavillions) de vidro e espelhos que aliam a materialidade objetiva da arte ao seu significado conotativo. “De início, o espectador poderá enxergar a estrutura e os materiais em termos puramente estéticos; após passar algum tempo naquele espaço … os aspectos psicológicos e sociais dos materiais e da estrutura se tornarão evidentes”, o artista descreve. Graham cria uma experiência subjetiva para o espectador, que é levado a participar de um jogo de exclusão e inclusão psicológica no qual, ao invés de observar obras de arte ou produtos, torna-se ele próprio o objeto do olhar do outro. A utilização de vidro e espelhos para modificar a experiência dos espectadores encontra um corolário em espaços públicos, como certas áreas de aeroportos internacionais e alas de maternidade, onde esses materiais são usados como divisórias e delimitadores. Como afirma o artista, “nos contextos artísticos, muitas vezes somente os efeitos estéticos do vidro e dos espelhos são notados; ao passo que, fora do contexto expositivo, esses mesmos materiais são empregados para controlar a realidade social de uma pessoa ou grupo de pessoas”.

 

Graham é um escritor prolífico e muitos de seus textos abordam questões de classe, gênero, cultura popular e história da sociedade. Para o curador Bennet Simpson, Rock My Religion (1983-1984), juntamente com os escritos do artista sobre as “ramificações ideológicas da música punk, fez de Graham um precursor daquilo que, nos círculos acadêmicos, começava a ser chamado de ‘estudos culturais’.” O documentário Rock My Religion é uma colagem de música, textos e imagens em vídeo que relaciona a história de grupos religiosos dos Estados Unidos ao desenvolvimento do rock’n’roll. A obra cria uma genealogia cultural que começa com os Shakers, um antigo grupo religioso que pregava o celibato e o trabalho e que se reunia uma vez por semana para realizar rituais religiosos nos quais os fiéis giravam e dançavam até entrar num estado hipnótico. As coincidências entre o movimento do rock e os Shakers vão além do fato de ambos incorporarem o transe a suas práticas. Como escreve Graham, “Na década de 1950, surgiu uma nova classe, uma geração cujo dever não era produzir, e sim consumir; eram os ‘adolescentes’. Libertos da ética do trabalho, para não fazerem aumentar o desemprego no pós-guerra, e da ética puritana do trabalho, sua filosofia era a diversão. Sua religião era o rock’n’roll. O rock inverteu os valores da religião americana tradicional.” Rock My Religion destaca o surgimento da cultura do rock como um marco no desenvolvimento de uma cultura adolescente guiada pelo mercado e surgida no contexto do pós-guerra.

 

Muitas das obras de Graham escondem uma análise semiótica, abordando os símbolos e sua interpretação na sociedade contemporânea. O título de Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005) faz referência à placa do nome de uma loja no shopping center retratado no vídeo. Produzida por Graham no Banff Center, Canadá, a compilação de 8 minutos registra atividades cotidianas filmadas no shopping center ao longo de quase 20 anos. O curta mostra grama sintética, filhotes de onça domesticados, um chafariz decorativo numa praça de alimentação e garotos brincando em piscinas. A obra chama a atenção para a abundância de símbolos de consumo, lazer e entretenimento colocados na paisagem construída do shopping, em grande medida composto de vidro e paredes espelhadas, superfícies e divisórias. O vídeo ecoa os textos de Graham sobre espaços públicos, numa crítica ao ecossistema comercial capitalista criado pela linguagem visual e estrutural do shopping center, uma estrutura corporativa capitalista. Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005) aborda a pergunta que, segundo Graham, está implícita em toda obra arquitetônica: “qual é a relação da arte e da arquitetura e seu efeito sociopolítico em seu ambiente imediato?” 

Vistas da Exposição

vista da exposição -- 

galeria nara roesler | são paulo, 2017

carol costa © galeria nara roesler