A Galeria Nara Roesler | Nova York tem o prazer de apresentar I Want To Be Like You [Eu quero ser como você], exposição que reúne uma seleção de obras de Carlito Carvalhosa, realizados na década de 1990 e após 2015, aspirando ser lugar de diálogos e tensões.
“Como é que eu vim parar neste lugar?“, “O que me trouxe até aqui?“, são algumas das perguntas que o artista lança sobre sua própria trajetória profissional. Para ele, ser um artista nunca foi sobre seguir uma rota preestabelecida “foi acontecendo”, explica. A trajetória de Carvalhosa não pode ser narrada linearmente, em termos de causalidade, mas, sim, através de caminhos irregulares em que elementos podem desaparecer e reemergir após lapsos temporais.
“A ideia é pegar trabalhos dos anos 90 e refazê-los e então criar uma espécie de trabalho que é uma cópia de algo que eu já fiz, mas que tem um tempo muito grande entre eles”, explica o artista, que acrescenta que “[...] é esse desafio que faz a exposição ser interessante, uma espécie de lugar onde as coisas estão em confronto e, embora falem coisas diferentes, conseguem se comunicar entre si. “
Em seus primeiros trabalhos com cera a pesquisa estava centrado nas possibilidades da luz em oposição a criação de zonas opacas, a partir da sobreposição de camadas de cera, resina e parafina. Com o tempo, a coloração e irregularidades na superfície da obra se tornam índices de suas existências. Já na sua prática atual, o uso de cores e a tensão entre pintura e escultura prevalecem.
No que tange os trabalhos em alumínio espelhado, Carvalhosa aponta para o fato de que a tela é o lugar onde projetamos coisas, enquanto o espelho faz precisamente o contrário, provocando uma inquietude que o interessa, uma vez que normalmente espera-se que o espelho seja uma superfície incólume, que reflita perfeitamente o entorno. Carvalhosa pinta o que não se espera que seja pintado. “O espelho não existe como plano e tem uma espécie de tensão que a pintura apaga. A pintura acaba por não estar em lugar nenhum. Ela está flutuando. “
Uma inclinação escultórica pela criação de volumes que atesta a maleabilidade dos materiais é um dos aspectos basilares das obras em I Want To Be Like You [Eu quero ser como você]. Nas ceras nota-se, por exemplo, marcas da manipulação do artista entre outros resquícios enquanto nos espelhos temos marcas de martelo. “Sem isso [o espelho] é simples reflexão”, afirma Carvalhosa. Já com o uso da cera, que tem características formais quase contrárias ao alumínio espelhado, pode-se abrir mão de ferramentas e usar os próprios polegares ou punhos para manipular o material, criando impressões que depois são cobertas com manchas de cor."
Essa atenção voltada à superfície é um aspecto presente em toda a trajetória do artista, expressando "a impossibilidade de sentir uma superfície sem espessura ou, inversamente, de adivinhar um volume, sem ambiguidades, pela superfície", como escreveu o crítico Lorenzo Mammi. Passadas quase duas décadas, é o próprio artista quem chama a atenção para o fato de que aquilo que se vê em seus trabalhos não é aquilo que se toca; aquilo que se toca não é o que se vê. "Uma série de sinais cruzados que fazem com que o trabalho valha não só pelo o que está dentro, mas também pelo o que está no entorno dele e na relação entre os trabalhos." Carvalhosa também menciona a presença de “uma brutalidade na imagem e uma sofisticação na pintura que gera uma tensão estranha: aquela superfície fica vibrando”.