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Nara Roesler Rio de Janeiro apresenta a exposição coletiva Electric Dreams, com curadoria de Raphael Fonseca. A mostra apresenta um grupo de dez artistas de diferentes gerações e regiões do país, cujos trabalhos trazem em seu cerne a dimensão do estímulo sensorial, remetendo-nos à fisicalidade e ao corpo humano, ao mesmo tempo em que evocam uma atmosfera onírica. 

 

O título da exposição, Electric Dreams – ‘sonhos elétricos’, em português – faz referência a duas fontes que encontram-se estreitamente relacionadas. A primeira, é o filme de ficção científica de mesmo título, dirigido por Steve Barron. O longa, lançado em 1984, narra a rivalidade entre um arquiteto e seu computador, ambos apaixonados pela moradora do apartamento de cima. A segunda, é a música composta especialmente para o filme,Together in Electric Dreams, de Giorgio Moroder e Philip Oakey, intérprete e vocalista da banda The Human League.

 

Como uma máquina poderia experimentar o amor, o prazer e o sexo se ela não possui um corpo humano? Para Fonseca, o dilema dessa narrativa cinematográfica se complementa com a canção que, segundo o curador, “nos convida a dançar e lembrar das dádivas que são a vida e a capacidade de sonharmos”. O sonho torna-se, então, o espaço de encontros que nos parecem impossíveis, o lugar onde vivenciamos experimentações sensoriais movidas pelo desejo, sem limitações da matéria.

 

A exposição Electric Dreams, por sua vez, aborda essa ideia ao apresentar uma diversidade de práticas artísticas capazes de evocar diferentes sensações. Para isso, os artistas se valem das mais diversas estratégias, principalmente o uso de cores vibrantes, como nos trabalhos de J.Cunha, Thiago Barbalho e Victor Arruda; ou pela atmosfera de dissolução das formas, encontrada nas obras de Ana Almeida e Cristina Canale, em que a expressividade das manchas e dos gestos parecem escapar de qualquer vontade figurativa; ou ainda os mecanismos de repetição de imagens, de serialidade de um mesmo objeto, em Lia Menna Barreto, ou da variação incessante de um mesmo tema, em Renato Pera e Virgílio Neto; por fim, o próprio corpo como tema, mas transformado, seja nas figurações oníricas de Kauam Pereira, ou no grotesco de Maya Weishof.

 

O corpo, lembra Fonseca, aparece não só como tema nos desenhos, pinturas e instalações que ocupam a galeria, mas também como indício de um gesto criador, da fatura que passa pela mão, que demanda negociações entre dois corpos, o do artista e o do suporte. Nesse contexto, as imagens apresentadas tornam-se potenciais materializações dos sonhos dos artistas, carregando traços de individualidade que não deixam de convocar o público a partilhar delas, a sonhar junto. 

 

Electric Dreams nos conduz a refletir sobre a importância da imaginação e do devaneio no momento em que as incertezas do isolamento parecem raptar nossa capacidade de projetar um futuro ao mesmo tempo em que reduzem os estímulos físicos à repetição do cotidiano, transformando o corpo em uma espécie de máquina. Nesse sentido, sonhar torna-se não um escape da realidade, mas um modo de resistir à crueza do cotidiano e de gerar encontros.

 

Electric Dreams faz parte do Roesler Curatorial Project, iniciativa que, sob direção de Luis Pérez-Oramas, reafirma o compromisso da galeria com projetos  inovadores e experimentais, estimulando o diálogo entre diferentes agentes do circuito artístico. A exposição é a segunda mostra curada por Raphael Fonseca na galeria: a primeira, Sobre os ombros de gigantes, inaugurou o calendário expositivo de 2021 em São Paulo e será apresentada na Nara Roesler Nova York em junho deste ano.