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Nara Roesler São Paulo tem o prazer de anunciar Propiedad del Estado, primeira individual do artista cubano Marco A. Castillo no Brasil. A mostra é um desdobramento de seu icônico projeto The Decorator’s Home, apresentado na 13ª Bienal de Havana (2018), em Cuba, e no UTA Artist Space (2019), em Los Angeles, nos Estados Unidos. A exposição fica aberta para visitação na Nara Roesler São Paulo de 10 de junho a 24 de julho de 2021.

 

 

Marco A. Castillo é um dos membros fundadores, junto a Alexandre Arrechea e Dagoberto Rodríguez Sánchez, do coletivo cubano Los Carpinteros.Sua carreira solo, por sua vez, baseia-se na pesquisa da história de Cuba, com foco nas mudanças sociais e culturais ocorridas no país após a revolução. Castillo tem realizado uma ampla investigação sobre os campos da arquitetura, do design e da escultura, linguagens fundamentais presentes em sua prática artística. Sua produção se dá nos meios da instalação, do desenho e da esculturas, estabelecendo uma estreita relação com o espaço contextual e físico em que se inserem a partir de uma negociação entre o funcional e o não funcional.

 

Propiedad del Estado traz ao público brasileiro a mais recente pesquisa de Castillo. Os trabalhos expostos são resultado de seu interesse pela utopia dos designers e arquitetos do movimento modernista em Cuba, em atuação desde a década de 1950, anos iniciais da Revolução Cubana. Nesse período, esses profissionais desenvolveram projetos responsáveis por instaurar uma verdadeira revolução estética no país. Eles atuaram na produção de novos espaços que deveriam se adequar e moldar a vida do “homem novo”, alcunha dada ao indivíduo que, ao estabelecer novas relações com o trabalho, construiria uma nova sociedade, com um novo modo de produção e uma nova moral. Suas criações, em design e arquitetura, caracterizavam-se pelo desenho austero, capaz de entrelaçar referências que abrangem desde o passado aborígene às influências nórdicas e africanas, resultando em uma linguagem própria.Contudo, na década de 1970, o projeto é abandonado, devido à falta de compreensão institucional que o estigmatizou como sendo uma manifestação de “gosto burguês”.

 

Castillo tem atuado de modo a recuperar essa tradição, lançando sobre ela novas abordagens e perspectivas. O artista tem realizado uma extensa pesquisa de recuperação do vocabulário formal e técnico do período, voltando-se para figuras chaves daquilo que ficou conhecido como ‘geração esquecida’, tais como os designers Gonzalo Córdoba, María Victoria Caignet e Rodolfo Fernández Suárez, e o arquiteto Walter Betancourt, entre outros. Esses nomes aparecem como referências diretas nos títulos dos trabalhos de Castillo, tornando-se uma homenagem que evita o completo apagamento de toda uma geração de criadores.

 

Uma das obras centrais da exposição é o curta-metragem Generación (2019),uma metáfora sobre o efeito cíclico que parece ocorrer com os programas cultural e estético em Cuba e, possivelmente, em outros países do mundo.  O vídeo participou das mostras do 41o Festival internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de La Habana (2019) e do Vancouver Latin American Film Festival (2020). Os personagens do filme são artistas, fotógrafos, escritores, arquitetos e curadores que compõem a atual cena intelectual cubana e que, juntos, são capazes de incorporar o espírito criativo da geração da década de 1970. Desse modo, o artista estabelece uma elipse temporal entre o passado e o presente da ilha, conectando essa realidade às frustrações experienciadas pelos jovens ao redor do globo.

 

Por outro lado, as esculturas e trabalhos em papel apresentados na Nara Roesler São Paulo, combinam elementos tanto do vocabulário  modernista cubano, quanto  do design soviético, deixando a tradição cubana transparecer nas técnicas, como a treliça e o vime. Em especial, a série Low Relifs traz uma releitura tridimensional da linguagem do pôster. Esses trabalhos foram criados a partir do desejo do artista em mergulhar na realidade dos anos 1960 e 1970 em Cuba e na América Latina, trazendo à tona as particularidades de suas tradições gráficas. Já a série Sketchbook, em que Castillo corta cadernos esculpindo duas letras em cada objeto, engaja-se nas dualidades carregadas de força sócio-política. Cada conjunto forma duas palavras diferentes - uma que aparece com a distância, outra com a proximidade, colocando diferentes noções em diálogo dentro de uma mesma peça.

 

Ao justapor elementos históricos e políticos com técnicas artesanais, Castillo estabelece um processo artístico capaz de entrelaçar diferentes narrativas e formas, a partir de um ponto de vista pessoal que nos apresenta novas interpretações do modernismo cubano, assim como das trajetórias sociais, políticas e econômicas do país.