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Nara Roesler New York tem o prazer de apresentar Marcelo Silveira: Hotel Solidão, primeira individual do artista brasileiro Marcelo Silveira (1962) nos Estados Unidos. A mostra reúne trabalhos de diferentes épocas, centrando-se na sua prática com a cajacatinga, madeira típica da mata atlântica brasileira, cujos fragmentos são encontrados parcialmente carbonizados pelo artista em Gravatá, no interior de Pernambuco, estado onde reside. Com curadoria de Moacir dos Anjos, curador do 30o Panorama de Arte Brasileira e da 29a Bienal de São Paulo, a mostra apresenta também as mais recentes colagens da série Hotel Solidão, feitas com imagens de revistas dos anos 50.

 

Ao longo de mais de trinta anos de carreira, Marcelo Silveira  se consolidou como um dos grandes nomes da arte brasileira contemporânea, conjugando técnicas provenientes do universo da artesania popular com aquelas da tradição artística ocidental. Sua prática caracteriza-se pelo olhar atento aos objetos e materiais que não possuem mais utilidade no cotidiano. Essas "sobras", como o artista gosta de se referir a elas, são incorporadas em seu processo fundamentado por uma economia do material. Seja recuperando estruturas de madeira abandonadas, ou seus fragmentos incinerados, seja colecionando revistas, vidros de perfume, pedaços de plástico, fotografias antigas, cartões postais, entre outros objetos, o artista visa aproveitar ao máximo os materiais, conferindo-lhes novas formas, destinos e sentidos, que demandam sua preservação como instrumentos estéticos. 

 

Em trabalhos como os das séries Manuais de Liêdo e Peles, Silveira investiga as características da madeira cajacatinga, abordando os limites da plasticidade do material, esculpindo-o, desgastando-o e criando linhas de resistência em sua superfície. Em seguida, organiza essas esculturas em diferentes configurações, por vezes sobre, ou encostadas à parede, como relevos; outras, construindo formas que brotam do chão, como em De natureza viva; ou ainda, penduradas, como Pêndulo e Aérea

 

Segundo Silveira, o gesto artístico pode ser verificado justamente na coesão do conjunto, que transforma um mero ajuntamento em uma forma coerente. O ato de reunir objetos é comum na prática do artista, constituindo uma verdadeira forma de colecionismo. Em Manuais de Liêdo, por exemplo, Silveira grava com letras de ferro sobre pedaços de cajacatinga frases retiradas dos mais diversos manuais. Além de conjugar dois tipos de colecionismo, a obra nos leva a refletir sobre as relações entre trabalho artesanal e intelectual. 

 

Hotel solidão, por sua vez, se inicia com uma coleção de edições brasileiras de 1947 à 1955 da revista “Grande Hotel”. Silveira faz uso das capas do periódico de fotonovela, doando seu miolo para outros artistas. As imagens, produzidas por ilustradores italianos, são cuidadosamente selecionadas, higienizadas, cortadas e então coladas sobre papel cartão, em diversas composições que chamam a atenção pelas suas cores peculiares e pela fisicalidade do trabalho que destaca as diversas camadas de papel ali organizadas.

 

Marcelo Silveira: Hotel Solidão sintetiza as principais linhas presentes no processo criativo do artista, determinadas por uma lógica que privilegia as potencialidades do residual por meio de processos de reciclagem de materiais e significados, ao mesmo tempo em que estabelece com maestria uma ponte entre a arte contemporânea e o artesanato popular brasileiro.