Nara Roesler tem o prazer de anunciar Carlito Carvalhosa: Matéria como imagem. Trabalhos de 1987 a 2021, individual do artista brasileiro Carlito Carvalhosa (1961–2021) com curadoria de Luis Pérez-Oramas em colaboração com o espólio do artista. A mostra apresenta uma seleção de trabalhos de fases emblemáticas de sua trajetória, destacando o entendimento consistente de Carvalhosa da dimensão criadora da matéria e da materialidade nas artes visuais.
Tendo vivido grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, Carvalhosa soube abraçar o legado radical de artistas brasileiros que o precederam, tais como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel e Antonio Manuel, entre outros, cujas proposições se mostraram fundamentais para as gerações seguintes de tal modo que foram traduzidas, muitas vezes, como o único caminho possível para a prática artística. O repertório instituído pela obra de Carlito Carvalhosa responde a este desafio histórico, desde a sua iniciação como pintor imerso nas profundezas dos recursos informais às suas impressionantes instalações performativas com tecido, luz néon, madeira, cera, espelhos e som.
Carlito Carvalhosa foi o primeiro artista brasileiro a ocupar o átrio do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), em 2011, com o projeto solo Sum of Days, anteriormente apresentado no octógono da Pinacoteca de São Paulo. O reconhecimento de Carvalhosa como uma das principais figuras de sua geração vem de longa data, fato que se comprova pelo seu reconhecimento institucional no Brasil, levando-o a ter trabalhos nas coleções permanentes do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Rio de Janeiro, Brasil; e da Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil, assim como em respeitadas coleções privadas.
Junto a Nuno Ramos, Fabio Miguez, Rodrigo Andrade e Paulo Monteiro, Carlito Carvalhosa fundou o grupo Casa 7, expoente da pintura vanguardista no Brasil em meados da década de 1980. Naquele tempo, as investigações pictóricas de Carvalhosa encontravam-se entre as mais radicais da América Latina, especialmente em seus trabalhos iniciais com cera, nos quais as mãos e dedos do artista tornam-se visíveis como traços que emergem da pintura, como se habitassem o interior do próprio suporte material, de modo a inverter a proposta clássica da pintura, em que o gesto é depositado na superfície.
Carlito Carvalhosa: Matéria como imagem. Obras de 1987 a 2021 se aprofunda na centralidade da escultura como prática expandida da produção de Carvalhosa, apresentando peças em cerâmica e porcelana, assim como esculturas efêmeras em gesso, além das monumentais e informes ceras perdidas, produzidas a partir de meados de 1990. Esses trabalhos permitiram ao artista revisitar formas clássicas como drapeados e estampas abstratas, sem abandonar a compreensão da matéria como força geradora de sua obra. Seus trabalhos sobre espelhos, por sua vez, endereçam o problema da imagem como reflexo invertido, ao cobrir essas superfícies com camadas de tintas, assim como fazendo uso de inscrições. Neles, a literalidade das formas coloridas choca-se com a suposta transparência dos espelhos, tornando-os opacos. Por outro lado, o mesmo repertório formal é capaz de ecoar nos volumes tridimensionais de suas esculturas, ceras e porcelanas.
O falecimento prematuro de Carvalhosa interrompeu a continuidade da produção serial de pinturas em cera, onde o artista evidenciou sua inigualável habilidade como colorista e como mestre contemporâneo da investigação incansável da potencialidade dos rastros e das marcas indiciais na produção visual. Carlito Carvalhosa: Matéria como imagem. Obras de 1987 a 2021 delineia o arco na carreira do artista, no qual ele explorou a matéria e a materialidade em suas relações com a imagem, abraçando e transcendendo de forma única os legados radicais de seus antecessores.