As 15 imagens sobre tela e sobre papel que compõem esta exposição de Cristina Canale (Rio de Janeiro, 1961) giram em torno de cenas nas quais animais domésticos, poltronas, mesas de bilhar etc. se interagem, estruturando a espacialidade da tela a partir destes elementos. Trata-se de interiores onde cães e gatos, de certa forma, tomam o lugar da figura humana, ou trazem animais em contato com a “civilização”, como as girafas no Zoológico, ou cavalo no Jockey Club. Em algumas obras a artista carrega de ironia as imagens, ao retratar móveis de design e ambientes que poderiam ter saído de uma revista de decoração nos quais os ‘bichinhos’ se comportam como donos da casa.
“Diversa da paisagem, os interiores me trazem uma espacialidade de planos mais próximos e definidos, um outro repertório de formas, e estruturas mais geometrizadas e arquitetônicas”, declara a artista. Desta forma, ela acredita poder brincar mais com a pintura de superfície/concreta e seu repertório (ritmo de quadrados e losangos – ladrilhos e lajotas). Os animais, pelo tratamento gestual e orgânico, contrastam com o ambiente arquitetônico. “Mas, apesar do foco na figura, a resolução do trabalho se dá por valores abstratos, a cor é o elemento estruturante”, completa.
Além das pinturas sobre tela, serão apresentadas pela primeira vez em Sao Paulo obras em papel. Nestes trabalhos, Canale mistura, assim como nas telas, soluções de cunho pictórico e de desenho. Segundo ela, o papel permite um outro equilíbrio destas linguagens e outra sensibilidade da matéria. O material é outro também, pois nos papéis utiliza aquarela, crayons, grafite e bastão oleoso, enquanto nas telas usa basicamente óleo e bastão oleoso.
Segundo Luiz Camillo Osório, o que se percebe nestas obras de Cristina Canale é uma atenção obstinada em relação aos meios da própria pintura - sua faceta moderna - ao mesmo tempo em que eles produzem na superfície da tela um repertório de sensações que intensificam nossa abertura para o mundo. “Ao contrário da tradição figurativa, não há uma cena anterior ao quadro, mas sim algo que se desenvolve a partir do jogo de forças entre potências cromáticas e gráficas”. É uma figuração sem representação, sem narração, construída a partir de sensações pictóricas e em nome de uma libertação das formas de ver dos modelos achatados de visibilidade. Acima de tudo, a pintura de Canale é mais mancha do que linha, submetendo a figura às palpitações cromáticas e não deixando o contorno estabilizar-se. Nesta vibração, as coisas não se acomodam e estão sempre se contaminando, em constante metamorfose”, afirma o crítico.
Cristina Canale, que participou da Bienal Internacional de São Paulo em 1991, mora na Alemanha, mas mantém um ateliê no Rio de Janeiro. Mudou-se em 1993, quando recebeu uma bolsa do D.A.A.D. (serviço de intercâmbio acadêmico do governo alemão) na Academia de Artes de Düsseldorf. Hoje, expõe em importantes galerias e centros de arte do Brasil e da Alemanha e também de outros países como Estados Unidos, França e Portugal.