A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar Co/respondências, exposição coletiva com curadoria do Núcleo Curatorial da Nara Roesler, que reúne trabalhos de importantes artistas brasileiros em diálogo com grandes nomes da arte contemporânea internacional, por meio de suas ressonâncias mútuas – seja por razões formais, estruturais, temáticas, biográficas ou históricas.
Um ponto em comum entre os artistas que integram a seleção é o fato de incorporarem em suas obras elementos visuais puros, como luminosidade, formas geométricas, cores e espacialidade, fatores que impactam diretamente na percepção do espectador e promovem intensas experiências sensoriais.
Se destacam, nesse sentido, os artistas Julio Le Parc e Heinz Mack, ambos figuras pioneiras da arte cinética e ótica internacional, que exploraram ao longo de suas carreiras de mais de 60 anos, elementos como luz e cor, incentivando a participação do espectador e a ativação de sua percepção. Integra também a exposição um Aparelho Cinecromático, de Abraham Palatnik (1928-2020), figura central da arte cinética e ótica no Brasil. Com o dispositivo, Palatnik reinventa a prática da pintura por meio do movimento coreografado de lâmpadas de diferentes voltagens em distintas velocidades e direções que criam imagens caleidoscópicas. Exibido pela primeira vez na 1ª Bienal de São Paulo (1951), o exemplar recebeu então Menção Honrosa do júri internacional por sua originalidade.
Se Le Parc, Mack e Palatnik inovaram ao explorar luz e cor em movimento a partir da década de 1950, Olafur Eliasson, é um dos artistas da arte contemporânea atual que mais se destaca em sua busca por ampliar a percepção do espectador. Os trabalhos presentes na mostra consistem em um conjunto de lâmpadas utilizadas no Pavilhão da Serpentine Gallery, em 2007. Essa estrutura arquitetônica, pensada em conjunto com o arquiteto noruegues Kjetil Thorsen, foi a primeira experiência de Eliasson realizada diretamente em um projeto arquitetônico. A ideia de ambos era definir o espaço do edifício não tanto por seus elementos e estruturas, mas sim pela experiência de fluxo e movimento daqueles que o percorriam, com a iluminação contribuindo para essa experiência.
Outro importante destaque da mostra é o diálogo estabelecido entre o italiano Michelangelo Pistoletto e o brasileiro Carlito Carvalhosa (1961–2021). O primeiro, representante da Arte Povera, passou a utilizar, a partir da década de 1960, espelhos de diversos tipos como suporte pictórico, pesquisa que se desdobra até hoje em seu trabalho. Carvalhosa, por sua vez, também utilizou como suporte superfícies espelhadas, tensionando-as com diversos materiais, tais como cera, tinta acrílica e, no caso de seus trabalhos que integram a exposição, o artista sobrepõe à superfície reflexiva, resina, tinta óleo e tinta spray. "A tela é um lugar onde você projeta as coisas. Mas o espelho reflete, então ele não deveria ser pintado. E é essa tensão que me interessa."
A materialidade é outro aspecto explorado pelos artistas reunidos na mostra. A americana Sheila Hicks, conhecida pelo uso inovador de artefatos têxteis, que vão desde pequenas tapeçarias de parede até obras site-specific de grandes dimensões, participa com um conjunto de trabalhos cujos títulos fazem menção à passos de Ballet, como Releve e Pirouette. O têxtil é também o meio através do qual Jacques Douchez (1921– 2012), um dos principais responsáveis por trazer a arte da tapeçaria para uma linguagem modernista, desenvolveu seu corpo de trabalho. Contemporâneo de vertentes abstratas e concretas das artes, dialogou com muitas dessas pesquisas, trazendo diversas conquistas plásticas para seu trabalho. Se, num primeiro momento, concebe a superfície têxtil enquanto um plano, posteriormente incorpora nela volumetria, criando assim trabalhos com configurações altamente originais e atributos escultóricos, como é o caso da obra Messidor (1988), que integra a mostra.