A Nara Roesler tem o prazer de apresentar, em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, Infravermelho, individual da artista nipo-brasileira Tomie Ohtake (1913-2015). Paulo Miyada, diretor artístico do Instituto, atua com Rodrigo Ohtake, arquiteto e vice-presidente estatutário da instituição, para desenvolver, respectivamente, a curadoria e a expografia da exposição. Na ocasião em que a obra de Tomie Ohtake é apresentada pela primeira vez na mostra principal da Bienal de Veneza, Infravermelho oferece uma oportunidade de adensar o olhar sobre uma importante etapa do trabalho da artista.
Na exposição, pinturas e uma escultura relevantes para a compreensão da produção de Tomie Ohtake nos anos 1990 são apresentadas em um arranjo que enfatiza sua analogia cosmológica. Hoje, perante o impacto das imagens produzidas a partir dos dados coletados pelo telescópio James Webb, cujos equipamentos captam a luz no espectro infravermelho, que é invisível aos olhos humanos, vivemos um momento de renovação do imaginário coletivo sobre as origens, a expansão e os limites do espaço – o qual cria a oportunidade de reinquirir o que há de cósmico na obra de Ohtake. Críticos como Frederico Morais e Miguel Chaia também já se debruçaram sobre a então chamada "Fase Cósmica" de Tomie Ohtake.
Na década de 1990, já consagrada como importante artista abstrata brasileira e pessoa pública referencial para a comunidade nipo-brasileira, Tomie Ohtake concluiu sua transição do uso da tinta à óleo para a exploração da tinta acrílica. Esse momento coincidiu com a passagem de um processo criativo baseado em estudos com colagens de papéis recortados para a investigação direta da pintura a partir de formas sintéticas – círculos, espirais, ovoides e ameboides. Na mesma década, Ohtake iniciou sua produção de esculturas enquanto linhas metálicas curvas, modeladas em escala humana a partir de modelos em arames diminutos.
Segundo Miyada, "trata-se de um momento em que a artista afina sua atenção às gestualidades pictóricas na sobreposição de camadas e transparências, tendo uma coleção de formas arquetípicas como seu objeto recorrente. Nesse sentido, Ohtake se afasta das matrizes da arte abstrata concreta e aproxima-se, simultaneamente, de tradições orientais (em especial do ensō no zen-budismo) e de imagens evocativas da natureza (em especial do cosmo)."