A Nara Roesler Nova York tem o prazer de apresentar Japan In/Out Brazil, exposição coletiva que reúne o trabalho de três artistas de diferentes gerações que têm em comum a origem japonesa e que nasceram ou possuem vínculos muitos próximos com o Brasil: Tomie Ohtake (1913-2015), Lydia Okumura (1948) e Asuka Anastacia Ogawa (1988). Embora tenham em comum a origem japonesa e o fato de pertencerem a essa diáspora no Brasil, as três pertencem a diferentes gerações: enquanto Tomie Ohtake nasceu no início do Século XX e iniciou sua produção ainda na década de 1950, Okumura deu impulso a sua poética na década de 1970, momento de grande efervescência na arte conceitual, e Asuka Anastacia Ogawa é de uma nova geração de pintores contemporâneos.
Tomie Ohtake consiste é um exemplo emblemático da diáspora japonesa na arte brasileira, sobretudo por seu pioneirismo. Com um trabalho inicialmente figurativo, a artista rapidamente se desloca para a abstração, na qual combina elementos gestuais com um rigor formal característico da abstração geométrica. A partir da década de 1970 passa a trabalhar com grandes áreas de cor e enquadramentos que sugerem continuidade das composições para além do espaço da tela. Com uso da tinta acrílica a partir de meados dos anos 1980, passa a criar tonalismos e deixar visíveis as sobreposições de camadas cromáticas, criando uma abstração de aspecto cósmico. Também desenvolveu um corpo de trabalhos escultóricos, que na exposição está representado por um trabalho da série Tubulares, desenvolvida a partir da década de 1990. Sua forma tubular e aspecto sinuoso, similar a um gesto pictórico, transmite leveza, em oposição à o natureza do material que a compõem (aço carbono).
Lydia Okumura, por outro lado, é uma importante representante da arte conceitual brasileira, vertente que ganhou força no país a partir do final da década de 1960. Ao contrário de outros artistas que lhe foram contemporâneos, que gradualmente deslocaram suas produções para algo mais experimental, Okumura já em suas primeiras criações demonstrou um alto grau de inovação, dado que concebia seus trabalhos não como objetos artísticos acabados, mas como situações visuais que impactavam diretamente na percepção do espectador. Desse modo, por meio de desenhos e intervenções no espaço, a artista criava instalações e trabalhos site-specific que jogavam com a sensorialidade do público, convidando-o para interagir e fazer parte do trabalho. A partir da década de 1980, Okumura passa a trazer esses experimentos óticos para a pintura, criando composições onde são explorados elementos geométricos e a ambiguidade entre bi e tridimensional.
A relação entre elementos culturais japoneses e brasileiros fica muito visível no trabalho de Asuka Anastacia Ogawa, jovem pintora que nasceu no Japão mas viveu parte de sua infância e adolescência no Brasil, antes de seguir para Europa e Estados Unidos, nos quais completou sua formação. Em sua obra pictórica, a artista representa personagens andróginas, de aspecto infantil, com olhos grandes e pele negra. Os fundos são neutros e de cores saturadas, por vezes intensamente luminosas. A representação frontal desses personagens, bem como o fundo algo abstrato, sugere que as mesmas carregam um forte conteúdo espiritual. Os títulos das telas fazem menção tanto a antepassados de Ogawa quanto a elementos ancestrais das culturas do Japão e do Brasil.
Assim, a exposição reúne diferentes contribuições fornecidas por três artistas de diferentes gerações que integraram a diáspora japonesa no Brasil, mostrando que tal diáspora não somente teve grande importância para a história da arte no país mas continua, ainda hoje, fornecendo caminhos para se pensar a produção contemporânea.