A Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de apresentar Mães, exposição que reúne trabalhos de Not Vital (Sent, Suíça, 1948) e Richard Long (Bristol, Reino Unido, 1945). A mostra, que abre ao público no dia 10 de setembro, celebra os dez anos da sede carioca da galeria e contará com trabalhos inéditos de ambos os artistas, incluindo trabalhos site specific de Richard Long criados especialmente para a ocasião.
Mesmo com trajetórias artísticas e pessoais distintas, Long e Vital compartilham de uma amizade e um vínculo que transcende o campo das artes. O título escolhido pelos artistas para a exposição é uma homenagem às mães de ambos. A mãe de Richard Long, Frances, oriunda de Bristol, na Inglaterra, nasceu no Rio de Janeiro. Long, por sua vez, estabeleceu uma relação de admiração e afeto com Maria, mãe de Not Vital. Quando Maria fez cem anos, em 2016, Long dedicou a ela uma nova edição de sua célebre série iniciada em 1971, intitulada A Hundred Mile Walk – na qual percorreu a distância entre Stonehenge e a nascente do Tâmisa.
Nascido em Sent, na Suíça, Not Vital se familiarizou com uma paisagem marcada pela neve e por tons de cinza, paleta cromática que influenciou fortemente sua produção, já que, em suas palavras “quando não estava nevando, tudo era cinza". Embora produza também instalações e pinturas, pode-se dizer que a parte mais expressiva de sua poética é constituída por esculturas, linguagem a qual se dedica desde o início de sua trajetória e na qual emprega materiais como bronze, gesso, mármore, entre outros. Em muitos desses trabalhos o artista explora o vínculo entre orgânico e inorgânico, humano e animal, real e fantástico, em estruturas totêmicas, híbridas e misteriosas.
Not Vital é conhecido também por ter expandido a escultura em direção à arquitetura com suas Scarchs, termo criado pelo próprio artista, que deriva da junção, em inglês, das palavras “escultura” e “arquitetura”, para definir obras construídas ao redor do mundo com materiais locais. O artista viaja pelo mundo realizando trabalhos e intervenções, já tendo passado por locais como China, Níger, Filipinas e, mais recentemente, o Brasil, onde tem um ateliê no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
Richard Long, por sua vez, é um dos escultores contemporâneos mais celebrados, tendo sido o único artista a ser finalista do Turner Prize por quatro vezes (e vencedor da edição de 1989). Com uma trajetória iniciada na década de 1960, o artista caracteriza seu trabalho como sendo uma “resposta aos ambientes” por onde caminha. De maneira geral, Long promove algum tipo de alteração nessas paisagens, quase sempre com os materiais que as compõem como pedras, lama e neve. Em alguns casos, o elemento principal se torna a caminhada do artista pela área, com fotografias, mapas e textos servindo como registro dessa ação.
Como muitas vezes seus trabalhos se dão em áreas isoladas e remotas, como o deserto do Saara ou terras na Islândia e, já que a maior parte dessas ações escultóricas são efêmeras, o processo de execução de seus gestos na terra, bem como o registro fotográfico destes aproximam sua produção da performance, prática que fez de Long um dos pioneiros da Land Art.
Enquanto dois artistas que pensam a escultura sob uma perspectiva contemporânea, é possível estabelecer paralelos interessantes entre as poéticas de ambos. Para além do espírito nômade que têm em comum e que marca de alguma forma os trabalhos de ambos artistas, pode-se destacar também a efemeridade, presente tanto na obra de Long quanto em algumas das Scarchs de Vital. Há também o estabelecimento de uma relação das obras com o meio e a paisagem nos quais se inserem e, no caso de Not Vital, há ainda as relações estabelecidas com a população local.