A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar A Sociedade Subatômica, individual do artista uruguaio Marco Maggi. Com 21 trabalhos, a exposição apresenta majoritariamente criações recentes do artista, produzidas nos últimos dois anos.
Com trajetória iniciada na década de 1990, Marco Maggi tem no funcionamento do olhar contemporâneo – pautado pelo excesso de velocidade, imediatismo e voracidade –, e em sua crítica, o ponto de partida de seu trabalho. Temos muitas vezes, como consequência disso, uma mirada descomprometida e apressada sobre o mundo que nos rodeia, algo que é rechaçado pelas proposições do artista que seguem pelo caminho oposto ao descrito, instigando o espectador a exercitar uma presença ativa que nos parece destoar da lógica atual em que estamos inseridos, apesar da obsessão dos nossos tempos com práticas como o mindfulness.
Sob um olhar desatento, os trabalhos de Maggi parecem silenciosos, e, em alguns casos, quase imperceptíveis. A escala miniaturizada em que são realizados demanda um olhar presente do espectador. Dessa forma, desvela-se o que a princípio custa a se mostrar: complexos, intrincados e minúsculos padrões geométricos, tracejados, linhas e até mesmo estruturas com certa vocação arquitetônica emergem do suporte e revelam uma inesperada e imbricada trama.
Para Maggi, sua exposição tem uma ligação direta com o universo das ciências naturais, em especial na virada da Física Clássica para a Física Quântica, ocorrida na primeira metade do século XX. Essa relação nos é introduzida pelo título A Sociedade Subatômica. Enquanto a Mecânica Clássica se ocupa das forças que agem em corpos geralmente maiores que um átomo, a Física Quântica nos lança justamente sobre o universo subatômico, onde “aumentam as instabilidades, as incertezas e as imprecisões. Essas características são definidoras do mundo subatômico por excelência, e em muito se relacionam com a maneira com que vemos e nos comunicamos na sociedade atual” explica o artista.
Além de trabalhos de papel sobre dibond, exemplares da prática que o artista vem desenvolvendo na última década, a exposição também reúne alguns trabalhos nos quais os suportes são objetos variados, como placas de acrílico, mesas de bilhar, bolas de ping-pong e esferas de acrílico, nos quais Maggi constrói suas complexas redes e tramas.
Outro aspecto que evidencia a importância da escala em seu trabalho é a dificuldade de registrá-lo, dado que seus detalhes minuciosos raramente podem ser retidos em uma única fotografia. Da mesma forma que a percepção para sua poética necessita ser detida e minuciosa, o mesmo se dá no âmbito do registro, no qual a câmera necessita estabelecer uma outra relação com o trabalho, muito mais próxima, para então captar os mínimos detalhes da obra, tornando o panorama uma inútil paisagem.
Em texto sobre o trabalho de Maggi na ocasião em que o artista representou o Uruguai na Bienal de Veneza, o filósofo François Cusset, pontuou acerca do método do artista: “traços lidam com o significado; eles qualificam o que merece ser inscrito: por outro lado, o insignificante não deixa rastros, o banal não tem memória, tudo desaparece com o instante de sua relevância. Marco Maggi vira essa ordem estabelecida de cabeça para baixo; esculpindo e cortando, ele transforma o insignificante em traço, o vácuo em arquivo, a sombra em alfabeto, o detalhe em cosmos e as mais ínfimas variações naquela famosa revolução que havíamos desistido de esperar”.