A Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de apresentar Logo as sombras desaparecem, terceira individual de Philippe Decrauzat na galeria. A mostra reúne em torno de 20 obras recentes das séries Screen e Gradient, produzidos entre 2024 e 2025, desdobramentos de sua pesquisa envolvendo elementos básicos da comunicação visual, como cor, luz, linhas, formas, e a relação que estas estabelecem com a percepção visual. Exemplares das mesmas séries de trabalhos foram apresentados anteriormente em mostras em Genebra, Madrid e Áustria e serão exibidos pela primeira vez no Brasil.
O título da exposição tem origem nos estudos realizados pelo anatomista tcheco Jan Purkinje na década de 1820, um dos pioneiros no que se refere à percepção visual. Neles, o cientista descreve as imagens formadas pelo olho no momento em que o mesmo está fechado e se aplica pressão sobre as pálpebras. Tais imagens, similares a manchas luminosas, hoje chamadas de Fosfenos, são de grande interesse para o artista, dado que são um dos meios mais primários de percepção visual.
A pintura e o filme de Philippe Decrauzat criam uma relação crítica com a história do modernismo, estabelecendo uma interação visual e referencial com certas estratégias perceptivas específicas das vanguardas históricas e práticas experimentais, estendendo suas fontes a campos tão diversos quanto o design gráfico, a música e a ficção científica. Seu trabalho mobiliza fenômenos ópticos que questionam tanto o autor quanto o status da imagem. Sua complexa relação com o tempo e o espaço – agora dilatados, comprimidos ou cíclicos – perturba nossa compreensão deles
A série Screen, por exemplo, faz alusão tanto à tela digital e às imagens virtuais com as quais nos deparamos cotidianamente, como aos já mencionados fosfenos. A ideia aqui é tratar a tela como uma superfície que produz brilho, seja ela um monitor, seja um olho.
Outra série apresentada por Decrauzat na mostra é Gradient, desenvolvida pelo artista em 2025. Nesses trabalhos, a geometria apresentada é de natureza regular, e constituída por uma malha de quadrados escuros e claros que se intercalam. Se a forma aqui é mais delineada, o mesmo não ocorre com a cor: grises e brancos muito esmaecidos criam uma composição quase apagada, que sutilmente desaparece conforme o olho do espectador a percorre. Essa série estabelece um diálogo com o filme de mesmo nome, Gradient, produzido pelo artista em 2021 no Kanal Centre Pompidou, em Bruxelas, na ocasião em que foi criado. O filme consiste em uma apropriação de um clássico do cinema mudo: Sunrise: A Song of Two Humans (1927), do cineasta alemão e mestre do expressionismo cinematográfico alemão Friedrich Wilhelm Murnau. Contudo, Decrauzat altera totalmente a sequência da obra original, reeditando-a com base em um algoritmo. O resultado é estruturado na gradação progressiva de brancos, do mais escuro ao mais claro. De acordo com o curador Jonathan Pouthier: “O resultado é estruturado na gradação progressiva de brancos, do mais escuro ao mais claro. (Quando projetado, o novo arranjo mostra o movimento natural da luz construído como um princípio narrativo no filme original). Cada imagem é substituída por uma sequência baseada no brilho, independentemente de seu valor narrativo. Embora seja impossível separar as técnicas de reprodução analógicas, a luz é aqui interpretada por meio de um prisma digital, como parte de um fluxo elétrico contínuo, livre de restrições espaço-temporais”.
No dia seguinte ao da abertura da mostra, no dia 30 de abril, às 18:30, Gradient será exibido na Cinemateca do Museu de Arte do Rio, em apresentação única que contará com a presença do artista seguida de uma conversa entre Jonathan Pouthier, responsável pela coleção e programação de filmes do Centre Pompidou.