Em seu primeiro trabalho no circuito brasileiro, o curador mexicano Patrick Charpenel foi o nome escolhido para reinaugurar o programa de parcerias internacionais do Roesler Hotel. Colecionador, historiador de arte e filósofo de formação, reconhecido por explorar em suas montagens os paradoxos e as ambigüidades da cultura contemporânea, ele tem expressiva atuação em curadorias independentes na cena latino-americana. Charpenel dirige a prestigiosa Colección/Fundación Jumex, da Cidade do México, que abriga um dos acervos particulares mais representativos da produção de arte contemporânea nacional e mundial.
Na coletiva Lo Bueno y Lo Malo, o curador convidado apresenta trabalhos de dois coletivos e 12 artistas de nacionalidades diversas. Executadas em variados meios e linguagens, todas as obras refletem sobre as ‘ações sensíveis’ realizadas no contexto das hegemonias políticas e econômicas da globalização.
A exposição reúne instalações, vídeos, foto, performance, filme em 16 mm e escultura, produzidos em diferentes partes do mundo, entre os anos 1990 e 2011. Por meio desse conjunto de obras, Charpenel discute as práticas culturais, financeiras e políticas do neoliberalismo. A mostra sinaliza, ainda, a necessidade de superação dos velhos dogmas do sistema de produção e consumo para o surgimento de um novo sentido de compromisso moral. “Nesta era de tecnologia e de constante movimento, existe grande necessidade de vida ética; os homens do novo milênio querem fortalecer os valores morais e melhorar a qualidade da comunicação”, diz o curador.
Patrick Charpenel inspirou-se na obra do cubano-americano Félix González Torres (1957-1996) e nas posições adotadas pelo artista para conceber a montagem da mostra. O curador busca uma linha de empatia e cumplicidade humanas e cita como referência de seu projeto a instalação Portrait of Ross (Retrato de Ross), apresentada por González Torres em 1991, no momento da morte de seu parceiro em decorrência do vírus HIV. A obra interativa, constituída de um montinho de guloseimas e exposta em um canto da sala de exposições, tinha peso idêntico ao do parceiro do artista. Ali, o público era convidado a pegar e a comer os doces. Ao consumir pequenos fragmentos da obra, os visitantes participavam de um ato de comunhão de perda física e espiritual. Assim também, cada trabalho dos 15 artistas que integram a mostra inserida no Roesler Hotel, segundo o curador, “toca nas fibras espirituais da natureza humana, permitindo uma conexão direta entre seres que se relacionam e se comunicam”.
o curador
Nascido em 1967 na cidade de Guadalajara, Patrick Charpenel acumula em seu currículo uma série de importantes exposições em galerias e espaços institucionais dentro e fora do México. Entre suas principais curadorias estão Acné, no Museu de Arte Moderna (Cidade do México, 1995), Inter.play, no Espaço Moore (Miami, 2003), Edén, com a Colección/Fundación Jumex (2003), Sólo los personajes cambian, no Museu de Arte Contemporânea de Monterrey (México, 2004) e Franz West, no Museu Tamayo (Cidade do México, 2006). Charpenel também é escritor e autor de textos críticos publicados em revistas especializadas e catálogos.
os artistas
Os artistas selecionados para integrarem a mostra Lo Bueno y Lo Malo são, em sua maioria, nomes de trânsito no cenário da arte contemporânea, vários deles com trabalhos premiados e reconhecidos internacionalmente. Muitos já participaram de mostras no Brasil. Vindos de diferentes gerações, quase todos, porém, estão na faixa dos 37 aos 51 anos de idade. Quatro deles nasceram na década de 1960 (Pawel Althamer/Polônia; Ana Torfs/Bégica; Roman Ondák/Eslováquia; e Cao Guimarães/Brasil). Outros sete, na década de 70 (Fernando Ortega/México; Sharon Hayes/EUA; Danh Vo/Vietnã; Alejandro Cesarco/Uruguai; Minerva Cuevas/México; Tim Lee/Coreia do Sul; e Kerry Tribe/EUA). A exceção é Moyra Davey, nascida em Toronto, no Canadá, em 1958. Além deles, dois coletivos de arte participam da exposição: o atuante grupo dinamarquês Superflex, criado em 1993, e o Claire Fontaine, fundado em 2004, com sede em Paris.