A Galeria Nara Roesler apresenta, a partir do dia 5 de maio, a exposição A Espiral e O Labirinto, de José Patrício. O artista pernambucano faz sua terceira individual na galeria, com curadoria de Cristiana Tejo, co-curadora do último Panorama da Arte Brasileira do MAM-SP, que também assina o texto crítico da mostra.
As obras apresentadas na nova exposição dão continuidade às pesquisas que o artista tem desenvolvido no universo dos números e combinações. As obras apresentadas remetem às Vanitas (vaidades), expressões artísticas que surgiram nos séculos XVI e XVII na Europa, em especial nos Países Baixos, e que ressaltam a brevidade da vida do ser humano, sendo quase que constante a presença de caveiras e esqueletos. José Patricio transpõe essa discussão para a atualidade ao trabalhar esses símbolos clássicos e frases que trazem reflexões sobre a finitude humana.
Em Vanitas Venezia, o artista trabalha digitalmente uma fotografia de um crânio feita em uma parede de Veneza, transformando-a em uma composição modular em tons de cinza, branco e preto. A curadora Cristiana Tejo aponta esta obra como um “extravasamento de sua pesquisa sobre possibilidades técnicas de exploração da lógica das combinações”, já que o artista tem utilizado o jogo de combinações, em especial os jogos de dominó, como mola mestra de numerosas obras de sua autoria, desde que em 1999 criou uma instalação para o convento de São Francisco, em João Pessoa (PB).
Acompanhando Vanitas Venezia, Azulejo e Azulejo II são fotografias com modular feitas no Convento de São Francisco, na Paraíba. O desgaste impingido pelo tempo gera padrões aleatórios de desenho, cabendo ao artista a possibilidade de apenas testemunhar e registrar este achado. A obra Vanitas qr code apropria-se desta nova tecnologia para telefones celulares, que vem sendo utilizada nas mais diversas plataformas comerciais, para estimular a interatividade. Isso porque os visitantes da exposição poderão usar seus aparelhos telefônicos para decodificar o que dizem as composições feitas com pecas de quebra cabeças, em uma estrutura é dada por letras, ao invés de números.
O terceiro momento da exposição traz trabalhos que evocam controle e ritmo. Em Vanitas espiral e labirinto, José Patricio desconstrói a lógica do jogo do quebra cabeça. O artista assume as tonalidades matizadas das pecas que vem do fabricante e reorganiza as partes para formar um novo todo. “O mesmo quebra cabeça de caveira virado para sua parte impoluta transforma-se em módulos abstratos, afeitos a ordenação. Parece que estamos fadados a desejar que a vida seja espiral, constante e progressiva, mas ela não passa de um grande labirinto.”, explica Cristiana Tejo.
José Patricio iniciou sua trajetória na década de 1980, em Recife (PE), sua cidade-natal. Em 1989, destacou-se ao receber o premio Aquisição no 11º Salão Nacional de Artes Plasticas, no Rio de Janeiro, e em 1992 faz sua primeira coletiva no exterior, em Marselha, França, ao que se seguiram diversas exposições importantes como a 22ª Bienal Internacional de São Paulo (1994), Bienal de Artes Visuais do Mercosul (2003), Bienal de Havana (2004), Panorama da Arte Brasileira, no MAM-SP (2005), Observatório Cultural Malakoff, em Recife (2005) e Projeto Octógono (2008), na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
O artista possui obras em importantes acervos do Brasil, como o do Museu Nacional de Belas-Artes, no Rio, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, no Recife, coleção Gilberto Chateaubriand (MAM-RJ) e prestigiadas instituições no exterior, como a Fundação Cartier, em Paris. No Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, Patrício integrou a mostra coletiva Os cinéticos, em 2007, enquanto no Kunstsenter, em Oslo, fez parte da exposição Postcards from Cuba : A Selection from the 8th Havana Biennial. Em 2011, o artista recebeu o livro “José Patrício: Cogitações sobre o número”, com organização do crítico e curador de arte Paulo Herkenhoff, que traz um panorama da carreira do artista, que também comenta alguns trechos da publicação.