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Marco Maggi traz um desdobramento do trabalho apresentado na Bienal de Veneza à Galeria Nara Roesler de São Paulo.

O uruguaio Marco Maggi foi um dos artistas selecionados para a 56ª Bienal de Veneza atual (em cartaz até 22 de novembro) com uma mostra que cabe em uma mala pequena. Agora, em sua segunda individual na Galeria Nara Roesler de São Paulo, que abre no dia XX de novembro, apresenta um desdobramento do trabalho da Biennale.

 

O título da mostra, Uma frase com três cantos, é uma brincadeira com o duplo sentido que a palavra canto tem em português, e faz menção à grande instalação de adesivos que Maggi criará na Galeria Nara Roesler, à qual o artista se refere como “uma sentença muito longa com três cantos”. Nela, estão os elementos característicos da pesquisa do artista, como pequenos recortes em papel que captam a atenção do espectador por sua aparente familiaridade. Apesar disso, as pequenas estruturas geométricas milimetricamente recortadas não significam nada, são apenas formas que precisam da atenção do olhar para serem visualizadas em sua totalidade.

 

Essa estratégia convida o público a um olhar lento e à percepção profunda, sem precisar chegar a um significado estrito. Ela torna evidente o caráter viciado da visão - e, consequentemente, do raciocínio - no mundo de hoje, em que o ser humano é bombardeado por uma quantidade de informação que dificilmente consegue processar. Nas palavras de Maggi, “Todos os dias estamos condenados a saber mais e compreender menos”.

 

O conceitualismo da representação em Veneza, toda em preto e branco, ganha a adição das cores primárias, outra característica da produção do artista. A exposição é formada por vários painéis brancos e pretos de dimensões variadas, em que as estruturas recortadas nas cores primárias - azul, vermelho, e amarelo, que junto com branco e preto formam a gama de cores mais básicas, por cuja mistura se pode obter todas as outras cores -, em preto e em branco são aplicadas ora contrastando com o fundo, ora em monocromia. Isso resulta em volumes e formas semelhantes a plantas de cidades imaginárias ou a um código de sinais sempre além da compreensão, ao mesmo tempo que atrai o espectador a decifrá-lo.

 

Além dos quadros, há uma instalação com esses pequenos marcadores e sinais, em branco e nas cores primárias, colados diretamente na parede. Stacking Quotes, obra recorrente nas exposições de Maggi, também integra a mostra. Ela é formada por um grupo de sete cadernos com pequenos marcadores e sinais nas cores primárias saindo de entre suas páginas, empilhados um sobre o outro.

 

As instalações de lápis, fixados perpendicularmente à parede graças à tensão de uma corda fixada na parede em arco, estão representadas na mostra por uma versão de 12 lápis, dos quais oito são brancos e os demais, vermelho, amarelo, azul e preto.

 

Pendendo do teto no meio do espaço expositivo, há uma escada de 5 metros de altura feita de papel Fanfold branco, no molde de uma escada de cordas. A exceção são alguns “degraus” em preto e nas cores primárias. A intenção é que a estrutura maior da escada desapareça à distância, ressaltando apenas os degraus coloridos, como se flutuassem. Novamente o estranhamento convida o espectador a se aproximar para ver e compreender melhor o que está vendo.

 

Nas palavras do diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, em texto de 2009, “O jogo que Maggi nos propõe é repleto de grandes ocultamentos e estratégicas revelações. É preciso olhar com tempo. (...) Trata-se de um jogo silencioso, delicado, vagaroso. Nesse sentido, encontramos aqui um sutil viés político, ainda que mascarado pela beleza e pelo deslumbramento das obras. A desaceleração é antimoderna, antiprogressista, anticapitalista, antiurbana e antiglobalização. (...) É justamente por esse seu traço de resistência que a arte se torna tão fundamental em nosso cotidiano”.