Em sua primeira individual na Galeria Nara Roesler de São Paulo, Angelo Venosa apresenta três novas séries de trabalhos derivadas de sua pesquisa sobre forma.
Angelo Venosa faz sua primeira individual na Galeria Nara Roesler entre 20 de fevereiro e 26 de março, intitulada Giusè. Nela, exibe cerca de 20 obras divididas em três novas séries de dimensões e materiais variados, esculturas processuais que derivam de sua pesquisa sobre forma desenvolvida ao longo de sua trajetória artística.
A produção de Venosa tem um caminho particular dentre os artistas da chamada Geração 80. Com um trabalho focado na tridimensionalidade, o artista valoriza os procedimentos e a experiência da realização como constituintes da obra. Seu processo criativo comumente alia elementos tecnológicos à manufatura, quando há o embate entre o conceito e o trabalho final.
Nas palavras do próprio artista, em entrevista a Paulo Sergio Duarte (2012): “ Olho para o que faço, para o que venho fazendo, e vejo de cara duas vertentes que são aparentemente antagônicas. Uma delas, mais cartesiana, um modo lógico e objetivo de construir o mundo, vamos dizer assim. E outra, em que há uma espécie de pressão da imagem, totalmente contrastante com a primeira e propositadamente mais desorganizada. Porém, um desordenamento que não é propriamente desordenado”.
As três séries de obras apresentadas na exposição lidam de maneira distinta com essas premissas processuais. A primeira é composta por sólidos construídos em camadas, saindo diretamente da parede ou do chão ou apoiados num suporte negro em que se vê a projeção bidimensional da continuidade de sua forma (chamados de “quadros”, estabelecendo uma relação entre pintura e escultura), num jogo entre a ideia e a matéria. Aqui, Venosa parte de uma forma ideal, criada no computador, para construir os volumes pela sobreposição de camadas, num resultado visualmente orgânicos.
O grupo com os maiores trabalhos da mostra apresenta o desenvolvimento da pesquisa de Venosa em busca de corpos estruturados externamente, ou seja, formas ocas delimitadas apenas por sua camada externa, como exoesqueletos. Nesses trabalhos, o embate do artista com o material torna-se mais evidente, já que as obras são formadas pela justaposição de camadas de compensado parafusadas umas nas outras. Novamente, a idealização inicial da obra é forçada contra seu limite material, que só pode ser configurado de fato durante sua realização.
Finalmente, pequenos elementos produzidos por uma impressora 3D, que se assemelham a estruturas orgânicas tais como corais - surge aí novamente a ideia do exoesqueleto - compõem conjuntos heterogêneos, como um gabinete de curiosidades da Era Moderna. “São também um forte espaço de experimentação no sentido mais direto e lúdico do termo” como define Venosa.
Pela integração de madeira à matéria plástica que constitui as camadas de impressão - que geram um paralelo à realização manual dos volumes em camadas do primeiro grupo de obras -, as peças ganham aparência entre orgânica e artificial, num efeito trompe l’oeil. E incorporam como parte da obra os erros de processamento (os chamados “stringings”, quando filetes de camadas sobram para fora da peça, como fios puxados), o que subverte a objetividade do processo tecnológico, inserindo a inexatidão e o acaso.
Assim, o sentido que perpassa esses trabalhos e os conecta à trajetória de Angelo Venosa é a assimilação da indefinição como componente de um mundo cada vez mais avesso ao imperfeito e baseado na certeza. Em seus quebra-cabeças processuais que, como numa ilusão de ótica, desmontam a todo instante a aparente coerência de seus elementos integrantes, o artista nos remete constantemente ao momento presente, na forma da experiência de contato com a obra, imprevisível como o próprio processo de criação. Mais importante do que compreender um sentido estático da obra é perceber-se instigado por suas contradições, que criam uma ponte entre a assertividade científica, cerebral, e a natureza de que somos parte.