horizontes moventes

jonathas de andrade e virgínia de medeiros
rio de janeiro e porto alegre
26.9 - 9.10.2022

Quais as representações, símbolos e alegorias da brasilidade prevaleceram no imaginário coletivo ao longo da história? Qual papel essas representações desempenharam nas disputas políticas do Brasil? Como a cultura pode contribuir para a formação de uma noção de identidade fluida e diversa? Essas são algumas das perguntas que mobilizam a exposição Horizontes Moventes. Em sua segunda edição, o projeto M.A.P.A. apresenta, em 27 outdoors localizados nas 27 capitais do Brasil, obras de artistas atuantes nas mais diversas áreas da cultura numa extensão que transborda as fronteiras geográficas e se desdobra em experiências poéticas singulares concebidas para o espaço público.
 

A inquietação em torno da noção de identidade é um assunto recorrente ao longo da história do Brasil. É o que podemos chamar de um tema clássico para aqueles que se colocaram diante da tarefa de pensar o país. A necessidade de se fazer uma revisão das narrativas que forjaram construções simbólicas da brasilidade a partir de pressupostos compactados e excludentes vem, ao longo dos anos, encontrando eco e interlocução. Uma conquista que inclui versões que ora convergem, ora colidem entre si. Nesse sentido, é importante entender a identidade como uma representação que se expressa não como dado concreto, mas como construção simbólica que se faz em relação a uma multiplicidade de etnias, religiões, gêneros ou classes.
 

Reconhecendo que a arte está inserida nesse complexo e instigante campo de forças, Horizontes Moventes se constitui como uma ação poética que interpela a atualidade do debate, aportando novas questões. Com elas, inclui-se a inscrição de outros horizontes possíveis de representação que possam entrever uma pluralidade de existências, afetos e pulsões, conferindo à noção de identidade sua mais perfeita impermanência.
 

O convite para tomar a cidade como espaço para exercícios imaginativos decorre, portanto, da necessidade de priorizar uma brasilidade afetiva, sonora, lírica e desejosa da possibilidade de compor outras lógicas e relações humanas, por meio de distintas formas de embates e visualidades. Sendo lugar de encontros, de confronto e, principalmente, de diálogos, o espaço público configura-se como campo aberto e fértil para que uma noção de identidade, conjugada no plural, seja enunciada.
 

Ao ocupar o outdoor como suporte para a produção artística, o projeto M.A.P.A pretende subverter a lógica do comércio, da propaganda e do palanque eleitoral - que faz uso frequente dessa mídia – para articular uma outra frequência imagética. E, dessa forma, despertar os sujeitos desprevenidos em suas rotinas na cidade, desconstruindo uma percepção utilitarista do espaço público ao convertê-lo involuntariamente em observador. A promoção de formas inusitadas de linguagem procura ressignificar o cotidiano, fazendo da rua um espaço de ação e resistência.

Patricia Wagner (Agosto/2022)