Nara Roesler tem o prazer de apresentar na TEFAF New York 2025 uma improvável justaposição de Figuração Surreal e Abstração Concreta, resumida como Maria e Mondrian.
Maria Martins (1894-1973), a mais importante escultora surrealista do Brasil e uma das artistas mais famosas do século XX, desenvolveu uma forma única de figuração neobarroca que evoca motivos brasileiros ancestrais e vernaculares. Ela viveu nos Estados Unidos entre 1938 e 1949.
Entre março de 1943 e abril de 1944, a Valentine Gallery, em Nova York, apresentou uma exposição de esculturas de bronze de Maria inspiradas em divindades da Amazônia. Simultaneamente, Piet Mondrian (1872-1944), amigo de Maria, exibiu suas últimas pinturas, incluindo a agora icônica Trafalgar Square (1939-43) e Broadway Boogie Woogie (1943).
Essa exposição histórica, realizada há 80 anos em Nova York, serve de pretexto para Maria e Mondrian. A apresentação reúne esculturas marcantes de Maria da década de 1940, ao lado de uma seleção de obras que fazem referência ao legado de Mondrian de abstração geométrica ortogonal e baseada em grades.
A exposição de Maria Martins na Valentine Gallery foi um sucesso absoluto, com suas obras adquiridas por grandes colecionadores, como Nelson Rockefeller, e museus dos Estados Unidos. Em contrapartida, Mondrian vendeu apenas um quadro - Broadway Boogie Woogie - para ninguém menos que a própria Maria Martins, por US$ 800. Maria pretendia doar a pintura para o Museu de Arte Moderna (MoMA), mas a instituição inicialmente rejeitou o presente. Foi somente com a mediação de Nelson Rockefeller que o museu acabou aceitando a peça como uma doação anônima. Hoje, Broadway Boogie Woogie é uma das obras mais procuradas da coleção do MoMA.
O encontro improvável entre o orgânico e o geométrico, o surreal e o racional, o vernáculo e o internacional, o ancestral e o futurista é uma parábola das complexidades da arte moderna - suas múltiplas narrativas, trajetórias imprevisíveis e fortunas flutuantes. Embora Mondrian seja hoje universalmente reconhecido como um pilar da arte moderna, sua obra raramente foi elogiada durante sua vida. Em contraste, Maria Martins estava entre os artistas mais espetacularmente bem-sucedidos de sua época, com quatro exposições individuais em Nova York entre 1943 e 1947, além de aquisições por museus proeminentes como MoMA, Baltimore Museum of Art, Museum of Fine Arts, Houston, Cleveland Museum of Art, Albright-Knox Art Gallery, Pasadena Art Museum e San Francisco Museum of Art. Apesar de seu notável legado, as contribuições de Maria foram injustamente ignoradas
Em Maria and Mondrian: The Unexpected Encounter of the Surreal and the Concrete, Nara Roesler reúne um grupo de esculturas únicas e marcantes de Maria Martins, de seu período amazônico, ao lado de obras de artistas cujas práticas se envolvem com os elementos fundamentais da abstração ligados ao legado de Mondrian. A exposição apresenta a versão de Vik Muniz de Broadway Boogie Woogie, ao lado de obras de Abraham Palatnik, Amelia Toledo, Sheila Hicks, María Eugenia Dávila e Eduardo Portillo, Mira Schendel, José Patricio, Fabio Miguez, Julio Le Parc e Marco Maggi - representando uma linhagem de abstração dos anos 1950 até os dias atuais.