Na Frieze London 2025, Alberto Pitta participa de Echoes in the Present. Esta seção, curada por Jareh Das, explora as conexões entre artistas do Brasil, da África e de suas diásporas. Enraizados em histórias compartilhadas, seus vínculos são marcados pelo deslocamento forçado de povos africanos através do Atlântico e sustentados por meio do contínuo intercâmbio cultural.
A mostra de Pitta apresenta novas obras da série Mariwô, desenvolvidas especialmente para a ocasião. Màriwó (Elaeis guineensis) é a folha da palmeira-dendê, árvore sagrada no Candomblé, religião na qual Pitta foi criado. Cada ramo da planta é cuidadosamente desfiado e pendurado nas portas e janelas dos terreiros e casas de santo, para afastar o mal e proteger a energia desses espaços para rituais das religiões afro-brasileiras. A trajetória visual de Pitta é marcada por um interesse singular nas culturas afro-brasileiras, na espiritualidade e na experimentação gráfica. Com uma prática que se estende por mais de quatro décadas, seu trabalho permanece indissociavelmente ligado à sua história pessoal. Filho da Ialorixá Mãe Santinha de Oyá, foi introduzido desde cedo à religião de sua mãe e às suas ricas tradições têxteis. Inicialmente, esse legado se manifesta nos intrincados bordados richelieu do artista. Desde a década de 1980, ele também desenvolve serigrafias padronizadas para o Carnaval, conferindo significado espiritual e cerimonial às festividades.
Seus estandartes evocam elementos tradicionais africanos e afro-diaspóricos, especialmente aqueles provenientes da mitologia iorubá. Nas palavras do curador Renato Menezes:
“De fato, signos, formas e vestígios que evocam linguagens gráficas tradicionais africanas encontraram, em seus tecidos, um lugar privilegiado para a educação das massas e a contação de histórias que só fazem sentido coletivamente. Se a escrita, na obra de Pitta, se estabelece por meio de padrões e cores que reinterpretam a cosmovisão iorubá, a leitura, por outro lado, surge das relações estabelecidas através do contato de corpos em movimento, quando as ruas da cidade se tornam um terreiro. Pelas dobras dos tecidos que vestem os foliões corre um alfabeto de letras e afetos, ativado pela música e pela dança: é no corpo do outro que se lê o texto que nos completa.”
Além de sua apresentação no estande da Nara Roesler em Echoes in the Present, Pitta apresenta uma seleção de mais de uma dezena de tecidos históricos de Carnaval, suspensos ao longo dos corredores da seção curada por Jareh Das.