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Nara Roesler tem o prazer de apresentar na Frieze New York 2021 um diálogo entre as obras de três artistas brasileiros: Cristina Canale (n. 1961), Carlito Carvalhosa (n. 1961) e Amelia Toledo (n. 1926-2017). A mostra examina como, em suas práticas, cada um dos artistas engaja-se com a frontalidade e o self, uma noção imbuída do peso histórico da afirmação de Leon Battista Alberti de que Narciso concebeu a pintura no momento em que tentou abraçar sua própria imagem refletida na superfície instável da água. O mito contém implicações teóricas complexas: a pintura como espelho, as imagens pictóricas como reflexos fugazes solidificados e, em última análise, a ideia da pintura primordial ser a de um rosto frontal que se torna uma imagem informe. A seleção apresentada oferece a oportunidade de compreender como diferentes práticas podem coincidir em suas tentativas de captar e incorporar reflexos do self.


O núcleo da apresentação repousa na justaposição formal e teórica das icônicas obras sobre espelho de Carlito Carvalhosa, assim como no engajamento de Cristina Canale com o retrato. As pinturas mais recentes de Canale se concentraram na representação de figuras sem rosto que parecem existir em um estado de dissolução iminente na completa abstração, enquanto certos elementos sugerem histórias pessoais e representações sociais. A falta de nitidez combinada com a frontalidade das figuras concede ao espectador liberdade para projetar ou absorver, de forma semelhante à Narciso com seu reflexo aquático.


Por outro lado, o trabalho de Carvalhosa sobre espelhos aborda as implicações fenomenológicas e teóricas do meio da pintura, como a ideia de que imagens pintadas são meios artificiais de espelhamento da realidade. Paradoxalmente, o uso de espelhos como suporte da pintura aniquila a possibilidade de enquadrar a realidade na imagem, ao mesmo tempo que força um inevitável encontro frontal e reflexivo de cada pessoa que ali se detém consigo mesma.


Por fim, as obras de Amelia Toledo oferecem reverberações dessas noções. Seus Dragões Cantores, fragmentos de rocha moldados pelo movimento das marés, emitem sons quando o espectador interage com eles com pequenos martelos de madeira. As esculturas, portanto, vocalizam a natureza da interação. O som varia de acordo com a forma como cada indivíduo as toca, refletindo diferentes relações com cada observador. Ao emanar um ruído, os Dragões Cantores também assumem uma individualidade, já que sua forma intrínseca molda o tipo de som que pode ser emitido.


Por fim, a apresentação, ao articular as obras de Canale, Carvalhosa e Toledo, ressaltando a semelhança de suas formas e marcas, ao mesmo tempo em que enfatiza seus diferentes engajamentos, ainda que coincidentes, com o self, a apresentação enfatiza as obras como uma projeção de um eu, uma reflexão efêmera, ou, ainda, oferece aos espectadores a liberdade de construir uma narrativa ao redor do self.


A apresentação de Nara Roesler na Frieze New York oferece ao público a oportunidade de ver o trabalho de artistas que usualmente não são exibidos lado a lado, criando novas perspectivas para a compreensão de suas práticas. A seleção também permite que o público se aprofunde na produção de Amelia Toledo, um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira, cujo trabalho foi recentemente o foco de uma mostra individual em Nova York, com curadoria de Luis Pérez-Oramas, ocorrida entre fevereiro e abril de 2021, na sede da Nara Roesler no bairro do Chelsea.