Bruno Dunley apresenta desdobramento de pesquisa dos dois últimos anos na primeira individual na Galeria Nara Roesler do Rio de Janeiro.
Bruno Dunley é o próximo nome a fazer sua primeira individual na Galeria Nara Roesler do Rio de Janeiro a partir do dia 25 de novembro. O desdobramento da pesquisa pictórica que o jovem artista fluminense vem realizando nos últimos dois anos, desde a exposição E, no Centro Universitário Maria Antonia (2013) dá corpo às cerca de dez obras que compõem a mostra.
Resultado da busca por uma narrativa que se dá no limite da pintura como linguagem, prescindindo da representação figurativa tradicional, o trabalho de Dunley mantém nesta mostra suas características anteriores. A materialidade da pincelada, o jogo de tensões entre planos de preenchimentos distintos (instabilidade x cor pura, rigor geométrico x traço solto) e a sobreposição de camadas seguem como os elementos significantes da narrativa que se constroi à margem da representação estrita.
Mas há novidades que mostram a evolução do trabalho do artista fluminense. O jogo com as cores iniciado na exposição anterior ganhou variações mais radicais, tonalidades mais intensas e até metálicos, além de intervenções diretas. “Chego a desenhar com carvão diretamente sobre a pintura”, diz o artista. Os tons mais pálidos, como o cinza, que tinha presença marcante na mostra anterior, foram minimizados em busca de uma vibração intensa. A acrílica surge como matéria-prima ao lado da tinta a óleo.
Os formatos também começam menores, com obras que vão desde os 24 x 30 cm a 150 x 200 cm. Quanto aos suportes, além das tradicionais telas, o papel Fabriano de baixa gramatura é outro elemento novo. Pela absorção da tinta, o óleo vaza pelas bordas e acrescenta mais um elemento à pintura, aplicada diretamente no suporte branco. Diferentemente das telas, em que o artista prepara a base com várias camadas de tinta para encobrir a trama do tecido.
“Minha relação com o trabalho está mais paciente”, define Dunley. Isso se comprova pela incorporação de mais óleo de linhaça à tinta, permitindo que ela corra mais facilmente e, ao mesmo tempo, seque mais devagar. Com isso, é possível pintar sobre a tinta fresca por mais tempo e delimitar menos as linhas que separam campos de cor e elementos gráficos abstratos.
O nome dos trabalhos acrescenta nova camada de sentido, que insinua uma narrativa por meio de sensações visuais em relação com palavras, como no caso de Drive-In (2015). A tela de 120 x 160 cm remete sutilmente aos faróis de um carro acesos à noite pelo campo de um rosa intenso centralizando a massa de tinta de azul profundo, cujas pinceladas são ora lineares, ora desgovernadas, como se estivessem apagando um plano anterior - outra característica da pintura de Dunley.
Com sua nova mostra, Bruno Dunley confirma-se como um dos nomes mais consistentes da nova geração da pintura, aliando técnica a uma sensibilidade aguçada não só para a arte, mas para seu tempo. Pela instabilidade da imagem e a fugacidade dos significados extraídos exclusivamente do jogo com os elementos circunscritos ao campo história da pintura, o artista evidencia o caráter de indefinição do mundo atual, indeciso entre aparência e essência.
Se é impossível chegar a uma representação do real graças às suas diversas camadas e o solipsismo do sujeito contemporâneo fica evidente na instabilidade da comunicação verbal, é possível e mesmo mais desejável tocar subjetividades pela relação entre a pintura e o olhar do espectador, relação essa que só se completa em foro íntimo de cada um. Sem fazer figuração, Bruno Dunley faz um retrato de seu tempo e vê além da superfície.