A Galeria Nara Roesler inaugura no dia 1º de abril uma mostra da produção recente de um dos ícones da arte brasileira, Antonio Dias.
As telas incluídas na seleção atestam o vigor e a atualidade do trabalho do artista, que mantém sua inquietude na pesquisa por uma pintura orgânica, viva e em consonância com o tempo presente.
Paralelamente à mostra na galeria, Antonio Dias está em cartaz naFundação Iberê Camargo ,a partir de 13 de março, com a exposiçãoPotência da Pintura, curada por Paulo Sérgio Duarte.
Sobre as telas de Dias, a crítica Sonia Salztein escreveu: “o conjunto de pinturas recentes de Antonio Dias mantém-se no rumo tomado pelo artista desde meados da década de 1980. São trabalhos que confirmam procedimentos característicos do que ele iniciava naquele momento". O que se vê são assemblages de telas justapostas, sobrepostas, unidas caoticamente, desconstruindo a noção bidimensional da pintura por meio de seus volumes e da irregularidade do contorno.
Mas não apenas essa alternância de enquadramento e superfície subverte o caráter pictórico tradicional: na aparente monotonia dos padrões impressos em cada um dos módulos pela pigmentação irregular, quase abandonada à própria sorte graças à deposição de materiais voláteis – pigmentos, elementos minerais, aglutinantes – Dias cria unidades cromáticas que integram o conjunto como peças de um mosaico, formando nuances visuais capciosas, a enganar o olho pelo rompimento abrupto das temperaturas de cor e das padronagens orgânicas.
Por essa pluralidade de ações convergentes, o artista complexifica o próprio procedimento pictórico, abrindo espaço ao acaso mesmo de forma consciente. Dias frustra a expectativa do olhar, num movimento que desperta o espectador acostumado à harmonia e à perfeição próprias do mundo tecnológico e industrial.
Ou ainda, novamente por Sonia Salztein, “disso tudo geralmente resultou, como também agora, uma pintura que antagoniza o estatuto óptico e a condição vertical do quadro, embora essa pintura sempre devesse se firmar em ambos, de modo obrigatório. O antagonismo se radicaliza e chega a um impasse na produção atual, e nisto reside a relevância dessas telas no debate contemporâneo da pintura - justo no disparate notável entre a ausência de expressividade declarada em cada uma de suas superfícies e a dramaticidade sobressalente, fora de lugar, que elas terão expulsado do quadro e que, se não pode doravante pertencer a ele ou à imagem acidental que dele inevitavelmente se desprende, fica implicada, e de modo tenso, no manejo distanciado e, digamos, 'pára-pictórico' dos materiais pictóricos. Essa dramaticidade fora de lugar, de que se tem notícia através da espécie de ritual ensaiado de procedimentos, é, conforme se disse, o que confere enorme interesse e atualidade a esses trabalhos."
Dessa forma, seguem ativos a pesquisa e o pioneirismo que marcaram a obra do paraibano desde o início de seu envolvimento com o universo artístico, ao se radicar no Rio, no fim da década de 1950, quando teve aulas de gravura com Oswaldo Goeldi (1895-1961). O ano de 1966 traz a criação com maior vigor de trabalhos de cunho conceitual, como a série The Illustration of Art. Posteriormente, realiza peças que se apresentam como autorretratos, como The Art of Transference (1972) e A Fly in My Movie (1974-76). A participação do público em sua obra é, por vezes, intensamente requerida, como na instalação Faça Você Mesmo: Território Liberdade, de 1968 (integrante da 29ª Bienal de São Paulo, 2010).
Transitando pela pintura, instalação, fotografia, livro de artista, vídeo e outras técnicas, Antonio Dias é descrito pelo crítico e curador Paulo Herkenhoff como "o nexo principal entre os neoconcretos e os artistas dos anos 1970: entre Hélio Oiticica e Cildo Meireles, Lygia Clark e Tunga, os não objetos e Waltercio Caldas, não se distanciando de Ivens Machado e Iole de Freitas, ou mesmo dos que atuavam nos anos 1960 ao lado de Cildo, como Barrio, Raimundo Colares e Antonio Manuel. Dias tempera a presença da palavra entre a arte conceitual e a tradição da poesia concreta".
sobre o artista
Antonio Dias nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 1944, e vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Milão. Participou da Bienal de São Paulo, Brasil, nas edições de 1981, 1994, 1998 e 2010. Entre as exposições coletivas recentes estão Mitologias por procuração (Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2013); Biografia incompleta (Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Niterói, Brasil, 2013); América do Sul, a pop arte das contradições (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); Arte & política: enfrentamentos, combates e resistências (Memorial Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); O agora, o antes: uma síntese do acervo do MAC (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2013); O colecionador: vontade construtiva (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); O abrigo e o terreno (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil, 2013),Pop, realismi e politica (Galleria d'Arte Moderna e Contemporanea, Bergamo, Itália, 2013); Circuitos cruzados (Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2013); Order, chaos, and the space between (Phoenix Art Museum, Phoenix, EUA) e Open work (Hunter College, Nova Iorque, EUA, 2013). Suas recentes mostras individuais incluem: In conversation: Hans-Michael Herzog and Antonio Dias(Museum of Fine Arts, Houston, EUA, 2012); Anywhere is my land(Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2010). Possui obras em coleções públicas internacionais como: Museum of Modern Art, Nova Iorque, EUA; Ludwig Museum, Colônia, Alemanha; Daros Collection, Zurique, Suiça; Stadtische Galerie im Lenbachhaus, Munique, Alemanha; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina; Fondazione Marconi, MIlão, Itália; e Centro Studi e Archivio della Communicazione, Università de Parma, Itália. Sua obra está representada em coleções nacionais como: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo; Itaú Cultural, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo;Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo; Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife; Museu de Arte Contemporânea de Niterói / Coleção Sattamini, Niterói; e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo. Está em cartaz na Fundação Iberê Camargo com a mostra Antonio Dias – potência da pintura até 18 de maio.