Para inaugurar seu novo espaço em Nova York, a Galeria Nara Roesler apresenta Marcos Chaves, uma seleção de 30 obras, incluindo fotografias, instalações e vídeos, abrangendo os 25 anos de carreira do artista.
O conjunto de trabalhos reunidos destaca o particular olhar andarilho de Chaves, que capta e constrói crônicas visuais, a partir de imagens encontradas nas cidades, especialmente no Rio de Janeiro, onde mora. Com um vocabulário fundado no humor e no acaso, o artista retira objetos banais, cenas e paisagens cotidianas do contexto lógico, para subverter ângulos estabelecidos e provocar diferentes narrativas. “Marcos Chaves surpreende significados e valores imersos nas coisas vulgares, dissimulados no hábito ou na convenção. Faz deslocamentos imprevisíveis e produz assemblages em tom de paródia, destilando aí a sua aguda observação sobre o mundo, da tecnologia ao lixo”, afirma a crítica brasileira Ligia Canongia.
Chaves usa o humor como catalisador de seu trabalho, recorrendo a registros visuais diversos para criticar a cegueira com que se veem as coisas corriqueiras sob a influência das convenções socioculturais. Para ele, o processo de criação de uma obra de arte pode consistir em retirar um objeto comum de seu ambiente funcional, combiná-lo com outros objetos, contextos ou referências e então apresentá-lo com legendas diferentes das que se esperaria para ele. “É incrível que depois de séculos de discussão não se consiga fazer uma distinção entre o riso e a seriedade sem colocá-los como oponentes. O humor, como intenção sincera, pode ser uma atitude política concisa, sem ser dogmática, bastante conseqüente”, comenta o artista.
No contexto urbano, Chaves flagra intervenções espontâneas populares, como as sinalizações de buracos em vias públicas, composta por insólitos objetos (série Buracos 1996/2014), ou captura delicadezas poéticas contidas em latas de tinta entornadas (Sem título 2012 / 2016), na sombra de um inseto sobre um muro (Dancing spider, 2016), ou na luminosidade colorida projetada sobre um piso comum de calçada (Sem título, 2012).
A abordagem irônica é sublinhada em imagens como na fotocomposição fálica de três arranha-céus (Sem título, 2016), no díptico que combina o crescimento improvável de uma copa de árvore e uma cadeira desprovida de função (série Santiago, 2012), na foto protagonizada por uma corda desgastada disposta em forma de clave de sol (Sem título 2016), ou no vídeo que sugere o trágico-cômico do sorriso (Laughing mask,2005)
“Evocando em seu trabalho o ambiente ruidoso do mundo, a Marcos Chaves interessa, sobretudo, a disponibilidade para ver o que é dado a todos – a vida ordinária – como se fora sempre e de novo a primeira vez”, afirma Moacir do Anjos.