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Galeria Nara Roesler | New York tem o prazer de apresentar Almir Mavignier: Privileged Form, com cartazes de Almir da Silva Mavignier (1925, Rio de Janeiro, Brasil). A exposição também incluirá o seminal "Aparelho Cinecromático", produzido por volta de 1955 por Abraham Palatnik (1928, Natal, Brasil), objeto escultórico que utiliza jogo de luzes para criar imagens caleidoscópicas. As trajetórias de Palatnik e Mavignier coincidem, visto que ambos os artistas, juntamente com o crítico Mario Pedrosa e o artista Ivan Serpa, uniram-se em busca do que Mavignier chamava de "forma privilegiada". Almir Mavignier: Forma Privilegiada estará em cartaz de 02 de março a 14 de abril de 2018. 

As estratégias estéticas empregadas na investigação de formas e cores nos cartazes de Mavignier estão há muito tempo presentes em sua prática. Seu trabalho é influenciado por suas experiências iniciais no Rio de Janeiro, pelo período que passou na escola construtivista de Ulm, na Alemanha, liderada por Max Bill, e por sua associação com o grupo Zero. Mavignier incorporou magistralmente os princípios artísticos expostos por estes movimentos em seus projetos, uma habilidade que lhe conferiu um papel fundamental na produção de cartazes na vanguarda do século 20. Os trabalhos expostos refletem a extensão da produção do artista e incluem cartazes feitos para exposições de artistas, movimentos e instituições como Paul Klee, grupo Zero e o Museu de Arte Concreta. A exposição também destacará cartazes de divulgação produzidos para mostras de Jesús Rafael Soto e Abraham Palatnik, enfatizando os pontos comuns entre a prática de Mavignier e a investigação formal conduzida por estes artistas.

Entre 1946 e 1951, Mavignier dirigiu o ateliê de pintura fundado junto a Dra. Nise da Silveira no hospital psiquiátrico do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Sua experiência com pacientes de psiquiatria fez com que reconhecesse que a "fantasia criativa" de um artista vem de seu interior. Ao longo destes anos iniciais, Mavignier produziu seus primeiros trabalhos abstratos, situados entre a forma geométrica e a figuração orgânica. A experiência do artista no hospital psiquiátrico também o aproximou de Pedrosa, Serpa e Palatnik. A tese de Pedrosa, da forma como um objeto de experiência direta, forneceu o quadro teórico para que os artistas ao seu redor conceituassem o potencial artístico inerente aos pacientes, observado no Engenho de Dentro. Durante este período, Palatnik produziu seu primeiro protótipo para o "Aparelho Cinecromático", que projetava padrões sequenciais de luzes coloridas sobre uma tela semitransparente. A obra presente na exposição, Sem Título (c. 1955), é uma das primeiras tentativas do artista em controlar tais padrões através de um botão giratório manual, um processo que, posteriormente, na década de 60, tornou-se automático. Nas palavras do historiador da arte Dr. Michael Asbury, "o caráter mecânico do trabalho, combinado com a associação a seus colegas, coloca aquelas experiências iniciais no hospital psiquiátrico dentro da tradição construtiva brasileira, ou assim parece ser".

No final dos anos 40 e no início dos anos 50 ocorreu o surgimento do movimento concreto na arte brasileira, uma transição fortemente marcada pela primeira exibição de Max Bill em São Paulo, em 1949. Como o poeta concreto e crítico de arte Ferreira Gullar explica, "o final da [Segunda Guerra Mundial] despertou uma onda de otimismo e renovação que se refletiu nas artes. A exposição de Max Bill em São Paulo, em 1949, criou a primeira conexão com o grupo de Ulm, herdeiro de algumas ideias da Bauhaus...". Max Bill, que posteriormente seria professor de Mavignier, apresentou a ideia da beleza enquanto produto de uma forma matemática. Os artistas de Ulm, liderados por ele, procuravam substituir a reprodução naturalista através da busca por uma compreensão fundamental sobre as estruturas que nos cercam, com foco no ponto, na linha e no plano. O contato com a prática de Bill provocou um deslocamento na perspectiva de Mavignier sobre a representação da forma. 

Como o artista afirma, "comecei a pesquisar formas e a fazer essa pintura não-naturalista... um novo mundo aberto a nós, então éramos livres". 

Mavignier começou a produção de cartazes enquanto estudava com Max Bill, em 1953, na Hochschule für Gestaltung, em Ulm, e passou a incorporar sua recém-descoberta liberdade em seus projetos. No final dos anos 50, os cartazes do artista adotaram uma qualidade que ele descreve como "modular". Nestes projetos, utilizava-se da repetição para transformar elementos compositivos e cromáticos em constantes matemáticas. A partir de 1960, o artista continuou a explorar repetições estruturadas através de seus "cartazes aditivos", cada um pensado para ser apresentado ao lado de uma impressão de si mesmo, estabelecendo um trabalho repetitivo e contínuo. Seu manuseio das cores também revela a influência de Joseph Albers, que lecionou na escola de Ulm de 1953 a 1954. O foco de Mavignier sobre a relação entre as cores é particularmente notado em cartazes que empregam tipografia colorida que, de longe, faz com que as palavras aparentemente se misturem com o fundo. Como resultado, os cartazes executam sua função informativa cativando o espectador através de um jogo de cores e formas.

 

Mavignier permaneceu na Escola de Ulm até 1958, o mesmo ano em que ocorreu sua primeira exposição junto ao grupo Zero, em Dusseldorf, na Alemanha. O grupo uniu-se pela rejeição à abstração gestual então em alta na Europa, e buscava empregar cores simples e estruturas seriadas na abordagem de uma estética minimalista progressista. Para este efeito, Mavignier desenvolveu uma série de pinturas que apresentavam padrões com gotas pontudas de tinta colorida. O foco dado pelo movimento artístico à luz e ao espaço também era consistente com a preocupação de Mavignier em relação aos elementos ópticos que mediam a relação entre o observador e a obra de arte. Na criação de seus cartazes, ele gera uma resposta perceptiva no olho do espectador ao combinar elementos de cores contrastantes com formas geométricas. Mavignier não apenas adotou os princípios estéticos defendidos pelo grupo, como também produziu cartazes para seus companheiros do grupo Zero, como Jesús Rafael Soto. Sua atenção à cor e à forma acentua a obra do artista venezuelano, para quem a prática artística tinha como foco a percepção do movimento. Através de seu envolvimento em conjunturas importantes na história da Arte, a arte e o design de Mavignier não abundavam apenas nas ideias mais inovadoras de seu tempo, mas também em relíquias da vanguarda pós-guerra.

 

Esta exposição foi desenvolvida em colaboração com o Instituto de Estudos de Arte Latino-Americana (Institute for Studies on Latin American Art - ISLAA), e a Galeria Nara Roesler gostaria de agradecer ao ISLAA por disponibilizar para exibição sua significativa coleção composta por quarenta cartazes. ISLAA é um instituto de pesquisa privado que promove bolsas de estudo e engajamento público com arte da América Latina por meio de seu programa de exposições, publicações, palestras e parcerias institucionais.