A Galeria Nara Roesler | New York apresenta León Ferrari, Por um Mundo Sem Inferno, que reúne vinte e duas colagens que investigam temas recorrentes na produção do artista tais como o amor, a linguagem, religião e poder. Com curadoria de Lisette Lagnado, curadora da 26ª Bienal de São Paulo (2006), a mostra é a segunda de duas exposições de Ferrari organizadas pela Galeria Nara Roesler em 2018. Por um Mundo Sem Inferno estará aberta ao público a partir 27 de abril até dia 30 de junho de 2018.
A exposição em Nova York foi concebida especialmente para o espaço da galeria. Segundo Lagnado, "a seleção atual visa sublinhar um dos elementos fundamentais de uma vida artística que perdurou aproximadamente sessenta anos: o prazer erótico. A exibição é estruturada em torno da colagem La Venus Tocada, em que uma escultura nua e sem braços é acariciada por onze mãos humanas. O número ímpar sugere a intrusão da mão do artista na imagem, enquanto a representação da figura voltada para trás agrega um valor andrógino à definição de beleza".
As colagens adicionais foram produzidas entre 1986 e 1988 e entre 1996 e 1998. Enquanto estas tem sua temática voltada ao amor, a curadora menciona "sua concepção, longe de platônica, desafia a discriminação contra a homossexualidade, e a misoginia das escrituras sagradas, marcadas pelo castigo e pelo inferno." O artista desafia a permissão paradoxal do imaginário sexual e violento presente na iconografia religiosa, enquanto existe uma censura do imaginário sexual relacionado ao prazer. Durante sua carreira, Ferrari produziu peças que desafiaram os mandamentos e doutrinas políticas e científicas. Assim, a relação entre Arte e Poder definem o corpo de trabalho de Ferrari, que denuncia veementemente a violência.
Em sua seleção, a curadora combina trabalhos artísticos que usam de iconografia oriental e braile como meios de expandir o repertório visual além da estética Greco-Romana e incluir a energia sensorial. A importância do braile é alinhada à investigação da linguagem, que é central para a prática de Ferrari. Como Lagnado explica "A fusão entre misticismo e cegueira é aplicada ao texto e imagens simultaneamente, levando em consideração que o texto é uma imagem." Em algumas de suas séries mais notórias, o artista contesta excertos de textos canônicos ao criar linhas emaranhadas, um processo que inclui caligrafias distorcidas para que eles se tornem ilegíveis, gerando códigos imaginários e criando uma língua inacessível. Em 2009, o Museu de Arte Moderna (MoMA) em Nova York, apresentou Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel [Alfabetos Enroscados: León Ferrari e Mira Schendel], com a curadoria de Luis Pérez-Oramas e com enfoque nas investigações de ambos artistas acerca da língua - e da palavra - escrita na arte visual. Agora, quase uma década depois, Galeria Nara Roesler | New York apresenta uma exposição que investiga, como escreve Lagnado, "Para quem são esses alfabetos? E o que ele tem a dizer sobre as imagens as quais estão associados?"