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A Galeria Nara Roesler | São Paulo apresenta Cabeças/Falantes, individual de Cristina Canale que traz como eixo uma série de pinturas de cabeças femininas no formato clássico de portrait. Em torno desta narrativa, desdobram-se outras obras em que são representados fragmentos de figuras humanas, partes do corpo e gestos cotidianos. Descoladas de sua totalidade e isoladas, estas partes adquirem uma outra dimensão.

 

Egressa da conhecida Geração 80, Canale tem se intessado nos últimos anos pelo universo feminino que, aos poucos, acabou tomando conta de sua produção. Geralmente baseadas em cenas do cotidiano, suas obras resultam de um elaborado trabalho de composição com massas de cor, destacando-se por transitar entre a figuração e a abstração, abrindo possibilidades para o imaginário subjetivo do espectador.

 

Em contraponto ao conjunto formado por retratos e referências ao corpo humano, a artista apresenta uma grande tela (2x3m) de uma cadeira solitária em uma paisagem abstrata. Segundo a pintora, trata-se de um objeto cotidiano que remete à feminilidade e faz lembrar as mulheres sentadas de Giacometti. “Tenho a impressão de que todas estas obras giram em torno da dicotomia entre presença e ausência”, afirma Canale.

Texto Crítico

  • cabeças/falantes

    clarissa diniz
    Arestas do corpo estão há tempos acompanhando Cristina Canale. Se Talkative (2018), uma de suas recentes pinturas, traz para o front uma espécie de fala-navalha capaz de rasgar o rosto – esse monólito que, num retrato, tende a marginalizar tudo aquilo que não o constitui –, tal relação figura-fundo é eco de outras angulosidades de sua trajetória, já expressas, por exemplo, em suas pinturas de 1985. Assim como, em Talkative, o retrato é uma espécie de disparador para a disputa entre as hierarquias da composição, naquele momento um beijo era o mote para um incontornável rasgo no espaço que a pintura operava. Constituída por partes recortadas e coladas, a pintura de 33 anos atrás não tinha seus corpos fendidos pelo fundo, mas rasgava o espaço justamente por seu corpo pictórico, acotovelando-o num abraço. Cristina Canale, Sem título, 1985 Como gérmen, ali já estava o interesse da artista pelo que circunscreve como “tensão na convivência entre contraditórios”, eixo central de sua investigação pictórica desde que, no final dos anos...