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A Nara Roesler São Paulo apresenta, de 22 de maio a 24 de julho de 2021, a mostra individual José Patrício: Potência criadora infinita, com curadoria de Paula Braga. A exposição reúne obras produzidas recentemente pelo artista pernambucano, que se consagrou pela utilização de procedimentos emprestados da matemática e de objetos retirados do cotidiano para a construção de composições hipnóticas.

 

 

Desde o final da década de 1990, Patrício vem explorando metodicamente materiais do dia a dia, como bonecos de plástico, botões, dados e dominós. A aparente banalidade desses objetos poderia facilmente remeter à esfera lúdica do jogo e da fantasia infantil, contudo, o arranjo sistemático os esvazia de sua função, transformando-os em imagens surpreendentes.


Para além do gesto de apropriação e de deslocamento de objetos da esfera comum para o universo da arte, o serialismo e a reprodutibilidade são também elementos estruturantes de sua prática. Reunir, em uma mesma composição, uma vasta quantidade de um único elemento determina um movimento duplo. Assim, esse objeto pode tanto manter-se identificável em sua individualidade quanto ser descaracterizado, em função da abundância assombrosa de semelhantes unidos pela regularidade do gesto composicional.

 

Em sua sexta exposição na Galeria Nara Roesler, José Patrício se aprofunda na busca, já recorrente em sua prática, pelo potencial estético de objetos comuns modificando suas configurações de forma a ampliar suas possibilidades formais, fazendo transparecer, por exemplo, ritmos e cores.


O elemento eleito para suas composições são pequenas peças cúbicas de plástico, cuja tonalidade passa do branco ao preto, percorrendo uma ampla escala de cinzas. Contudo, a variedade dos 22 tons torna-se uma ferramenta econômica. Ao excluir a profusão cromática, a estrutura dos trabalhos fica ainda mais pronunciada e deixa transparecer as impressões de movimento, dinâmica e ritmo.

 

Esse fato mostra-se evidente nessa nova série, na qual os próprios títulos dos trabalhos – circuito tonal, trajetória sobre preto, trajetória sobre branco – ressaltam o caráter de fluxo que vibra em seus arranjos. O movimento está incorporado em sua prática não só como desenvolvimento de uma pesquisa artística, mas na abertura às possibilidades combinatórias, que não se esgotam. Mesmo utilizando poucos elementos, que, em cada quadro, recebem uma sequência fixa, a diversidade de arranjos não tem fim.


Segundo a curadora Paula Braga, essas composições excêntricas e concêntricas que capturam o olhar do público, mais do que o resultado da insistência do artista no processo criador, são uma reflexão sobre o próprio tempo, que, finito para nós, torna-se visível a partir da impossibilidade de esgotamento de todas as variedades combinatórias.