Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar Ao que vai nascer: Isaac Julien, Elian Almeida, Virginia de Medeiros, com curadoria do Núcleo Curatorial da galeria sob coordenação de Luis Pérez-Oramas. A exposição reúne obras de distintas séries do britânico Isaac Julien e dos brasileiros Virginia de Medeiros e Elian Almeida. Ao que vai nascer abre ao público no dia 02 de abril, na ocasião da SP-Arte Weekend, integrando a programação oficial da feira, e segue em exibição até 21 de maio de 2022.
A mostra se estrutura ao redor das fotografias que compõem Lessons of the Hour, celebrada vídeo instalação de Isaac Julien que já foi apresentada em diversas mostras e eventos em Londres, Los Angeles e Amsterdã, e que chega, pela primeira vez ao Brasil. Lessons of the Hour é centrada no afro-americano Frederick Douglass, figura fundamental para o abolicionismo norte-americano no século XIX. Esses impressionantes retratos, cuidadosamente encenados, recriam e re-ficcionalizam a história em torno de uma das personalidades mais fotografadas do século XIX nas Américas. Os quadros vivos de Julien servem como retratos monumentais que trazem para opresente a urgência do legado abolicionista de Douglass, sumarizado no seu famoso discurso de 1894, Lessons of the Hour.
Junto a Isaac Julien e seus exemplares retratos da memória, a exposição inclui obras de dois artistas brasileiros, cujos trabalhos ampliam a reflexão sobre o retrato na sua discussão de questões raciais, sociais e históricas: Elian Almeida e Virginia de Medeiros.
O jovem artista carioca Elian Almeida apresenta o primeiro ato de O ouro afunda no mar, madeira fica por cima. O projeto, dividido em três partes, se debruça sobre o tráfico de povos africanos para as Américas. Nascido no Rio de Janeiro, no Cais do Valongo, ponto central de chegada no Brasil de navios vindos da África, Almeida destaca a noção de nascimento, individual e coletiva, real e metafórica, atuando para a revisão e alargamento das narrativas históricas e midiáticas acerca do assunto, lançando luz sobre aspectos violentos da história que deliberadamente foram apagados ou atenuados pela narrativa dominante.
A icônica série Fábula do Olhar, de Virginia de Medeiros, acrescenta uma outra camada de significados à exposição ao se debruçar sobre o amplo significado social do retrato e, mais especificamente, sobre o anseio individual pela imagem. Os trabalhos são resultados de encontros da artista com pessoas em situação de rua. Colaborando com eles, Medeiros registra suas histórias e imagens, documentando vidas que tendem a ser invisibilizadas pela sociedade. Para além das questões sócio-raciais, a obra de Medeiros discute o retrato em si: o desejo ativo de ver e de projetar a própria imagem no mundo como uma forma de reivindicar a completude de nossa dignidade humana, como um incessante lugar para o que vai nascer.
Assim, Ao que vai nascer apresenta a potência dos gestos individuais, de Julien, Almeida e Medeiros, na criação de um retrato coletivo que abarque, com o merecido prestígio, os indivíduos e comunidades discriminados, seja racial ou socialmente. Sobretudo, a exposição visa revelar o desejo compartilhado de se ver e de projetar a imagem de si no mundo como forma de reivindicar a inteireza de nossa dignidade humana.