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Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de anunciar Maquinamata, individual de Laura Vinci que abre ao público no dia 09 de junho e segue em exibição até 08 de agosto de 2022. A exposição é acompanhada de texto crítico de Felipe Scovino e reúne um singular conjunto de esculturas cinéticas, criado especialmente para a mostra, explora relações sutilmente inusitadas entre o universo mecânico e o natural.

 

Desde muito tempo a natureza se faz presente na poética das obras de Laura Vinci, seja pela utilização de seus elementos, seja pela apropriação de suas formas. Em No ar, por exemplo, ela utiliza bicos de aspersão em alta pressão, fazendo com que a água lançada fique entre o estado gasoso e o estado líquido, criando assim uma espécie de neblina que se espalha pelo espaço expositivo, seja ele fechado ou ao ar livre. Em Estados, Vinci emprega estruturas de refrigeração para condensar partículas de água suspensas no ar, fazendo-as visíveis em letreiros de metal, enquanto em Máquina do mundo, obra que integra o acervo permanente de Inhotim, uma esteira transporta pó de mármore de um lugar a outro, em um esforço repetitivo, lento e ostensivamente não produtivo.


Nesses trabalhos, o emprego da tecnologia põe em evidência elementos invisíveis como o ar, a umidade e, principalmente, o próprio tempo, alterando a dinâmica entre a percepção do ambiente e o nosso corpo. Em anos recentes, Vinci deu continuidade a essa aproximação à natureza criando esculturas de latão banhadas a ouro que parecem tornar permanentes estruturas vivas como galhos e folhas. Penduradas no teto, ou nas paredes, essas estruturas transformam o espaço em que se inserem em enigmáticas florestas sem lugar, como ocorreu na exposição Folhas avulsas e galhos, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2019.


O título da exposição possui significados múltiplos, pois tanto fala da força destruidora da máquina, levando-nos a pensar nos efeitos da industrialização desenfreada no mundo, como propõe pensarmos a mata como uma espécie de máquina, tendo em vista a delicada engenharia interna que envolve os mecanismos desenvolvidos para sua sobrevivência e sua extraordinária capacidade expansiva e multiplicadora. Maquinamata define bem, ao mesmo tempo, o caráter dúbio e instigante dos trabalhos apresentados por Vinci, que aliam pequenos motores com estruturas de folhas e galhos naturais feitos em latão. Acionando fragmentos evocativos da natureza – uma folha que rodopia no ar, galhos sacudidos como se fosse pelo vento, inesperados sopros de pólen – , tais dispositivos despertam uma aura que ressoa poeticamente em nossa memória afetiva, mostrando-se ao mesmo tempo, de maneira perturbadora e quase sinistra, fantasmáticos e robóticos.
Laura Vinci aponta para a urgência de criarmos novos paradigmas para os modos como percebemos e nos relacionamos com aquilo que chamamos ainda, talvez tarde demais, de mundo natural. A máquina, criação humana por excelência, representativa do desenvolvimento industrial que nos distanciou da natureza, é abordada pela artista numa direção incomum – a de uma aproximação sensível que é ao mesmo tempo humorada e corrosiva, lírica e pungente.