Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar José Cláudio: uma trajetória, mostra retrospectiva com curadoria de Aracy Amaral que visa homenagear um dos grandes nomes da arte pernambucana da segunda metade do século XX. Ocupando os dois espaços da sede paulista da galeria, a exposição apresenta mais de cem trabalhos do artista desenvolvidos ao longo de setenta anos de carreira. Esta é a primeira vez que uma mostra tão abrangente de José Cláudio é realizada em São Paulo, apresentando a magnitude da obra do artista e intelectual que atuou de forma determinante para o estabelecimento das vertentes da arte moderna em Pernambuco. José Cláudio: uma trajetória abre ao público no dia 8 de outubro e segue em exibição até 5 de novembro de 2022.
“José Cláudio é um artista completo”, afirma Nara Roesler que, ao abrir sua primeira galeria no Recife, em meados dos anos 1960, teve José Cláudio como um dos primeiros artistas a serem exibidos. Agora, passados mais de quarenta anos, a galeria volta a apresentar o trabalho do artista com uma seleção de obras que compreende momentos fundamentais da prática artística de José Cláudio, incluindo trabalhos que integram os acervos do MAC USP e do Palácio do Governo, além de diversas coleções particulares.
A relação de José Cláudio com a cidade de São Paulo vem de longa data. Em 1955, após ter integrado o Atelier Coletivo, dirigido por Abelardo da Hora, no Recife, e de sua passagem por Salvador, que possibilitou o encontro com Mário Cravo Júnior (1923–2018) e Carybé (1911–1997), José Cláudio chega à capital paulista, onde trabalha como assistente de Di Cavalcanti e frequenta a Escola de Artesanato do MAM, sob orientação de Lívio Abramo. Na década de 1970, o artista se juntou à equipe do Museu de Zoologia da USP para realizar uma viagem em missão científica na Amazônia. Desta experiência provém alguns dos trabalhos apresentados na exposição, que também foram reunidos no livro 100 telas, 60 dias e um diário de Viagem, Amazonas 1975 (2009).
A exposição também inclui trabalhos da série Carimbos, desenvolvida na década de 1970, na qual o artista faz uso do carimbo para criar composições que podem ser compreendidas como narrativas visuais. Criando seus próprios carimbos, o artista exercitou livremente a criação, desenvolvendo, inclusive, diversos livros de artista que hoje são vistos como verdadeiros monumentos do movimento Poema/processo.
Além do grupo de retratos apresentados e dos nus femininos, tema recorrente em sua produção, também estão presentes na exposição paisagens e cenas de festividades populares. Fica evidente, assim, não só a variedade da produção do artista, mas sua abordagem particular a temas e gêneros caros à história da arte, em uma aproximação entre essa tradição e a cultura popular. Essas relações se fazem presentes na série de trabalhos desenvolvidos a partir do início da década de 1980, em que o artista revisita a famosa pintura de Almeida Júnior (1850–1899), O Repouso do Modelo. A exposição conta ainda com publicações e documentos históricos que permitem ao público entrever a ampla produção artística e intelectual de José Cláudio.
“José Cláudio é um criador. Pintor, escultor, escritor, pesquisador. Um erudito além do mais. Historiador das artes em Pernambuco. Repositório saboroso dos casos ou de personagens que conheceu ou de eventos de que participou, que narra como envolvente contador de histórias, fatos reais que absorvemos de seus livros, ou ouvindo e indagando detalhes.”, afirma a curadora Aracy Amaral. “Na verdade, José Claudio extravasa os limites dos espaços previstos. Pois é muito além de observador, cronista, historiador. Sua qualidade de excepcional desenhista e inquieto especulador, faz com que o assinalemos como o grande criador pintor do Recife e da luz da Amazonia”.