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Nara Roesler São Paulo tem o prazer de anunciar A vida é um detalhe, segunda individual de Not Vital na galeria, na qual o renomado artista suíço, conhecido por seu estilo de vida nômade e por construir obras site specific ao redor do mundo, apresenta sua produção recente em escultura, pintura e trabalhos sobre papel. Esta é a primeira vez que Vital apresenta obras desenvolvidas em seu estúdio no Rio de Janeiro. A mostra abre ao público no dia 26 de novembro de 2022 e segue em exibição até 21 de janeiro de 2023.

 

Pode-se dizer que a arte de Not Vital é feita a partir do encontro e este, por sua vez, se dá, principalmente, através do deslocamento. Sua própria mobilidade se configura como uma variável importante na capacidade de Vital em transformar, descontextualizar, reconfigurar e relocar fragmentos culturais e seus símbolos: Vital nasceu em 1948, em Sent, um pequeno vilarejo montanhoso no vale Engadin, na Suíça. Aos 18 anos, ele se muda para Paris, logo em seguida para Roma e, em 1976, para Nova York. Desde então, o artista tem viajado ineterruptamente para todos os cantos do mundo, trabalhando e vivendo periodicamente em Agadez, no Níger, em Lucca, na Itália, em Beijing, na China, na Patagônia, no Chile e no Rio de Janeiro, além de passar algum tempo em sua cidade-natal.

 

Vital interessa-se pela diferença, observada não a partir de um olhar etnográfico distanciado, mas pelo convívio estabelecido com as comunidades, pelas trocas e pelos afetos ali desenvolvidos. Seu estilo de vida nômade, deu origem a diversos corpos de trabalho, que vão desde esculturas, a trabalhos em papel, os quais correspondem ou emergem dessa sua experiência itinerante. Deste modo, a presente exposição reúne trabalhos que têm origem em sua experiência mais recente no Brasil.

 

Nesta individual, Vital apresenta duas esculturas feitas em pedra que derivam de suas já conhecidas Houses to Watch the Sunset [Casas para ver o pôr-do-sol]. Desde 2005, Vital vem construindo essas "casas" que se originam do encontro entre a escultura e a arquitetura, ou SCARCH, palavra valise do vocabulário do artista que une escultura [sculpture] e arquitetura [architecture]. Exemplares das SCARCHS já foram criadas em diversos modelos e escalas, construídas em diferentes materiais e instaladas em diferentes lugares do globo tais como: no Níger, no deserto do Saara, na Patagônia chilena e na Amazônia, além de uma instalação permanente no Louisiana Museum of Modern Art, na Dinamarca. Mais recententemente, Not Vital construiu uma versão de suas Casas para ver o pôr-do-sol dentro da Abbazia de San Giorgio Maggiore, como parte da programação da Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, em 2021. 

 

A exposição apresenta também esculturas mais antigas, trazidas da Suiça, tal como Double Lotus (2010), produzida em aço inox e que tem mais de quatro metros de altura. Como é comum em sua prática, nessas esculturas, os universos naturais e artificiais convergem na criação que tem como inspiração elementos vegetais e animais. Exemplares da série Lotus já foram expostas em diversas mostras, individuais e coletivas do artista. Em especial, durante sua primeira grande exposição no Reino Unido, no Yorkshire Sculpture Park, em 2016, na qual Vital criou uma espécie de trilha com cem esculturas que compõem a instalação Let One Hundred Flowers Bloom (2008).

 

A mostra também inclui uma série de retratos desenvolvidos a partir de encontros durante sua estadia mais recente no Rio de Janeiro, assim como um conjunto de autoretratos que derivam de seu contínuo esforço em se autorepresentar, o que o artista define como “algo tão complicado que poderia ser um projeto de toda uma vida” . Estas imagens, no entanto, não visam ser uma representação fidedigna do retratado, mas buscam revelar o íntimo, aquilo que demanda atenção e concentração para ser visto. 

 

Já o último grupo de trabalhos, denominados Ice Paintings, se desenvolve a partir do desejo de retratar a paisagem vivenciada na infância em Engadina, onde Vital cresceu em uma atmosfera de silêncio contemplativo, tão diferente da atmosfera do Rio de Janeiro, onde foram concebidos estes trabalhos. “Em minha terra, metade do ano tem quatro metros de neve e os olhos se tornam sensíveis à luz. Se eu tivesse nascido no Brasil ou na Índia, meu trabalho seria muito mais colorido.” 

 

Na prática de Not Vital, encontramos articulados conceitos dicotômicos, como o escuro e o claro, o preto e o branco, o dia e a noite, o frio e o quente, orgânico e inorgânico, a natureza e a cultura, a escultura e a arquitetura. Sua mais recente individual é um convite para observar as dualidades não pela chave do antagonismo, mas pela compreensão da alteridade que permite o convívio de diferenças.