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Nara Roesler tem o prazer de apresentar a primeira individual da artista brasileira Brígida Baltar em Nova York. Brígida Baltar (1959–2022): To Make the World a Shelter, tem curadoria de Luis Pérez-Oramas e visa revelar o impulso poético que guiou uma prática marcada pela articulação entre fabulação e materialidade. A exposição propõe uma seleção de trabalhos que abrange desde os inícios de sua produção, na década de 1990, aos seus últimos trabalhos, realizados em 2022.


Indiscutivelmente uma das principais artistas brasileiras, Baltar se manteve dedicada a uma poética sem concessões, envolvendo sua vida e seu corpo na vontade estética de compreender o mundo como uma extensão de sua intimidade. Lidando com a noção de abrigo, a nostalgia tanto do lar quanto da origem como base para uma incessante metamorfose, seu trabalho foi tão eloqüente quanto sutil em sua vontade de existir contra o pano de fundo de uma cultura fútil de hiper-exposição.


Brígida Baltar iniciou sua carreira artística no final da década de 1980, recebendo atenção da crítica nacional e internacional ainda no início de sua trajetória, levando-a a ser convidada a participar de sua primeira Bienal, a 5ª Bienal de Havana, em 1994. Nos anos seguintes, acumulou participação em bienais, tais como a 25ª Bienal de São Paulo (2002), Brasil; a Bienal das Américas (2010), em Denver; e a 17ª Bienal de Cerveira (2013), em Portugal; além de quatro edições da Bienal do Mercosul (2009, 2011, 2015 e 2020), além de ter realizado inúmeras exposições coletivas e individuais. 


Brígida Baltar centrou sua pesquisa inicial na experiência, na saudade e no conceito de lar. Morando em uma casa localizada no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, realizou suas obras seminais no início dos anos 1990 a partir de pequenas intervenções performativas centradas no seu corpo e casa, as quais ela fotografou, desdobrando-as em um amplo repertório de ações e objetos, partindo, principalmente, do pó oriundo dos tijolos daquela casa. Com esse material, Baltar produziu inúmeros desenhos em papel, instalações site-specific e esculturas, que ela seguiu desenvolvendo mesmo após mudar de casa, abraçando uma poética que desejava marcar o rastros de sua casa no mundo exterior, como se, ao disseminar o pó que constituía aquela presença sólida, a artista pudesse sinalizar a possibilidade de um campo ampliado para a noção de abrigo.


Casa (1997) é um trabalho icônico do período que participa da exposição. Nele a artista armazena pó do tijolo de sua casa em 240 frascos diminutos, organizados cromaticamente. Também estão incluídos desenhos de elementos naturais, paisagens e partes do corpo feitos com pó de tijolo. 


A centralidade de seu corpo potencializou sua obra como uma presença abrangente e quase universal de feminilidade. Brígida Baltar abordou todos os suportes: vídeo, instalação, fotografia, desenho, escultura, cerâmica, ready-made e têxtil, para experimentar as possibilidades ilimitadas de associações e analogias, mergulhando num repertório pleno de hibridismo e colisão de formas, notadamente em cerâmicas, tecelagens, desenhos e esculturas, muitos dos quais encontram-se em exposição. Entre eles, há um conjunto de esculturas de porcelana no formato de conchas, entrelaçando as ideias de corpo e abrigo e investigando as arquiteturas da natureza e dos elementos orgânicos, tais como  As Irmãs (2017), As lambidas do mar (2017), e A Carne do Mar I (2018), assim como bordados que representam organismos híbridos, como A quimera das plantas [os cogumelos e a batata-doce] (2016), e que depois, mapearam a superfície de seu corpo, tal como Os hematomas (2016).


A morte prematura de Brígida Baltar no ano passado mudou o ímpeto desta exposição, transformando-a em uma celebração elegante de sua obra única. Brigida Baltar (1959-2022): To Make the World a Shelter, por fim, ressalta a multiplicidade da prática de Brígida Baltar a partir da sua relação única com a materialidade e da sua consciência da existência corpórea humana como fonte inesgotável de impulso e exaustão de vida.


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