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A Galeria Nara Roesler, depois de apresentar, em 2008, a série de Cristina Canale (Rio de Janeiro, 1961) que tinha nos animais a tônica dos trabalhos, traz agora cinco  pinturas sobre tela que compõem a exposição Sem Palavras, na qual as mulheres sublinham a poética das telas. De Berlim onde vive, a artista, que também trará sete obras em papel, começou a se interessar pelo universo feminino que, aos poucos, acabou tomando conta de sua recente produção. “São mulheres vividas, portanto, esteticamente guardam uma carga”, ressalta Canale. 

 

Na nova série, uma das mais importantes pintoras contemporâneas brasileiras, egressa da conhecida Geração 80, constrói atmosferas cênicas, nas quais um instante revelado de singular potência pictórica abre frestas para fecundar o imaginário subjetivo de cada espectador. Segundo o curador Jacopo Crivelli Visconti, a sua figuração não tem nenhuma ambição mimética. “Por outro lado, é necessário ir além de uma leitura apenas formalista: nas telas de Cristina Canale existe, colocado com a mesma clareza e mantido num estado de suspensão e indefinição análogo ao que caracteriza a luta entre abstração e figuração, um impasse da narrativa, que oscila entre a construção de histórias reconhecíveis e quase convencionais em sua aparente linearidade (um casamento, uma visita ao zoológico com a neta, uma aula de violino, etc.) e o abismo de um mergulho sem volta na afasia da pura cor”, analisa o crítico.

 

Para Jacopo Crivelli Visconti ainda, as histórias contadas por essas telas não estão necessariamente comprometidas com a realidade do jeito que a conhecemos, poderiam derreter-se a qualquer momento, dissolver-se em algo irreconhecível. “Essa dissolução latente é a ameaça que paira, como uma morte anunciada, sobre todos os personagens das histórias de Cristina Canale”.

 

Cristina Canale, que participou da Bienal Internacional de São Paulo em 1991, mora na Alemanha, mas mantém um ateliê no Rio de Janeiro. Mudou-se em 1993, quando recebeu uma bolsa do D.A.A.D. (serviço de intercâmbio acadêmico do governo alemão) na Academia de Artes de Düsseldorf. Hoje, expõe em importantes galerias e centros de arte do Brasil e da Alemanha e também de outros países como Estados Unidos, França e Portugal. Entre as mostras destacam-se: Geração 80 e as individuais no Instituto Tomie Ohtake e na Galeria Van der Mieden, na Antuérpia.