A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar Sangue Azul, exposição individual de Marcos Chaves (1961, Rio de Janeiro) que reúne trabalhos inéditos em tapeçaria, além de três objetos, dois deles da década de 1990. A mostra toma partido de uma intervenção realizada pelo artista em 2013 na Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro, na qual Chaves apresentou tapetes que eram réplicas fotográficas de detalhes de tecidos da coleção da Fundação.
Em Sangue Azul, Marcos Chaves posiciona nas paredes as tapeçarias inéditas em tons de vermelho que reproduzem fotografias feitas pelo artista do chão de carpetes de locais históricos europeus, como o Palazzo Doria Pamphili, construído em Roma, no século 16; a escadaria que leva ao único trono existente de Napoleão Bonaparte (1769-1821), no Castelo de Fontainebleau, na França, que data dos primórdios do século XII, e era residência dos reis franceses; e a Ópera Garnier, projetada durante o reinado de Napoleão III (1808-1873), o décimo-terceiro palácio a abrigar a Ópera de Paris, fundada por Luís XIV. No piso de uma das salas da galeria, o artista cobrirá toda a superfície do chão com uma versão em grande escala do tapete que originou a pesquisa em 2013.
“Gosto muito da ideia de degradê, da cor que vai sumindo, e de seu significado em francês também de degradado, coisa gasta, decadente. Com o uso ao longo do tempo, é possível ver nesses tapetes europeus suas várias camadas, em que a trama sobressai e forma um grid. Também ficam visíveis marcas do peso sobre o chão em que o tapete está colocado, formando baixos-relevos. Essa ideia de coisa gasta e a geometria que surge são o que gosto nesse trabalho, que acaba por quase ser uma homenagem à pintura, como se eu estivesse pintando com a fotografia e o pelo do tapete”, conta Marcos Chaves. Alguns trabalhos criam uma perspectiva “ao contrário”, como os trabalhos Fontainebleu I e II, que trazem os degraus para o trono de Napoleão.
Também fazem parte da mostra três objetos – também na cor vermelha – um deles, o inédito MessAge 2, traz um canivete suíço que prende na parede um pedaço de veludo com a inscrição “Our love will grow vaster than empires”, de autoria do poeta inglês Andrew Marvell (1621–1678). Os outros dois trabalhos são “ready made”, ambos de 1992: a bolsa Jaws; e o par de sapatos de salto alto Sem título, dispostos de tal forma que se assemelham a um coração ou a uma trompa de falópio.
Ginevra Bria, curadora e autora do texto crítico que acompanha a exposição, enfatiza que “Sangue azul entrelaça fotografias, instalações e esculturas”. “Mas como um eixo da exposição, a fotografia empresta os títulos das obras das contradições de supremacia da nobreza, da política e das uniões de razão de ser histórica (citando locais de poder como Fontainebleau, Pamphilii e Garnier)”, continua.
Em Sangue azul, Marcos Chaves não tem como objetivo atribuir valor simbólico a materiais, formas ou cores, já que em suas obras, estes elementos adquirem uma linguagem própria. Bria destaca ainda que “entre o lento apagamento das dimensões vertical e horizontal, cada elemento representado ou ampliado é hipostasiado em um movimento temporal, enquanto a dinâmica nobre dos vermelhos é atemporal. E enobrecida.”