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A Nara Roesler tem o prazer de apresentar uma exposição de dois artistas notáveis que destacam a diversidade do legado cultural afro-brasileiro: Alberto Pitta (n. 1961, Salvador, Brasil) e Elian Almeida (n. 1994, Rio de Janeiro, Brasil). Com curadoria de Luis Pérez-Oramas, a mostra propõe dois grandes argumentos visuais em contraponto, que aproximam, de um lado, os padrões ornamentais afro-brasileiros de caráter simbólico-religioso em tecidos pintados — marca registrada da produção de Alberto Pitta — e, de outro, cenas pictóricas histórico-narrativas de Elian Almeida, baseadas em identidades e narrativas afro-brasileiras.

Ao longo de mais de quatro décadas, Alberto Pitta desenvolveu uma trajetória visual singular, marcada pelo diálogo entre culturas afro-brasileiras, espiritualidade e experimentação gráfica. Sua prática artística está diretamente ligada à sua história pessoal, inicialmente como filho da ialorixá Mãe Santinha de Oyá, importante líder religiosa que o introduziu ao universo dos tecidos — primeiro por meio do intricado bordado richelieu e, mais tarde, pela serigrafia e pelos padrões têxteis que começou a desenvolver nos anos 1980 para o Carnaval de Salvador, uma das maiores festas populares do mundo e um espaço de ousada experimentação visual, do qual Pitta é uma das figuras de referência. Presente de forma significativa na recém-inaugurada 36ª Bienal de São Paulo, a produção de Pitta nunca havia sido objeto de uma apresentação abrangente nos Estados Unidos.

Em diálogo com as obras de Pitta, a mostra apresentará uma seleção de pinturas de Elian Almeida, artista pertencente a uma nova geração de criadores cujos trabalhos devolvem o protagonismo a agentes e corpos tradicionalmente marginalizados na sociedade brasileira e na história da arte ocidental. Almeida aborda o decolonialismo, explorando a experiência e a performatividade do corpo negro no Brasil contemporâneo, em um processo de recuperação de elementos do passado — imagens, narrativas, personagens — como forma de contribuir para o empoderamento e a difusão da historiografia afro-brasileira.

Nas pinturas escolhidas para serem apresentadas em contraponto às obras de Pitta, Almeida oferece uma nova perspectiva sobre a forma como essas histórias podem ser contadas, explorando memória e ancestralidade não apenas como passado, mas como dimensões subjetivas vivas e presentes. Essa abordagem conceitual busca revelar significados alternativos dentro da pintura.

Durante uma recente viagem a Salvador, Bahia, Almeida visitou o ateliê de Alberto Pitta, onde foi inspirado a experimentar novamente a serigrafia — técnica que havia conhecido na faculdade, mas que revisitou sob a orientação do mestre da estamparia e dos tecidos. O uso da serigrafia e dos estênceis lhe permitiu alcançar volumes e texturas que o pincel, por si só, não seria capaz de produzir.