Nara Roesler apresenta Color Clímax, uma exposição que reúne dois dos pintores mais singulares do Brasil, Sergio Sister e Karin Lambrecht, para explorar a força transformadora, emocional e material da cor na arte contemporânea. Ao longo da história da arte, a cor tem operado como o tema mais elusivo e persistente da pintura — um elemento capaz de produzir afeto para além do discurso, suspender a retórica e se afirmar como pura intensidade luminosa e opaca. Em Color Clímax, Sister e Lambrecht revelam como a cor pode alcançar um ponto de culminância, um limiar clímax em que a pintura se torna corpo, fôlego e ressonância.
Reconhecido como um dos principais pintores abstratos das Américas, Sergio Sister desenvolveu, desde o final do século XX, um dos repertórios mais abrangentes de prática monocromática no Brasil. Após afastar-se da produção figurativa de cunho político, na esteira do trauma da prisão durante a ditadura, Sister adotou o monocromo — não como redução, mas como expansão, não como “forma pura" mas como superfície de transformação perceptiva. Suas obras, de pequenos painéis a heteróclitas assemblages objetuais, funcionam como corpos materiais de tinta, nos quais densidades cromáticas sutis e espessas pulsam intersticialmente, sobretudo nas bordas do plano. Suas ligações, que conectam múltiplos painéis em forma de polípticos, ecoam as “linhas orgânicas” de Lygia Clark: intervalos que articulam desde o vazio, ativando a obra em sua tensão estrutural.
Karin Lambrecht, por sua vez, apresenta uma prática marcada por um engajamento afetivo, espiritual e visceral com a cor. Suas telas surgem como pulmões resgatados in extremis pelo sopro da cor — superfícies onde uma densidade clímax se torna palpável por meio de lavagens, manchas e campos atmosféricos. Desses planos etéreos emergem “estigmas” visíveis — em ressonância com o legado de Mira Schendel: escritas apagadas, costuras exuberantes, cruzes bordadas e nós que se assentam sobre a superfície como cicatrizes. Sua pintura trata o campo pictórico como uma epiderme viva, um lugar onde ferida e fulgor coexistem.
Embora distintas — as estruturas de Sister sólidas e precisas; as atmosferas de Lambrecht expansivas e corpóreas — os dois artistas convergem na compreensão da cor como força inesgotável. Ambos têm aprofundado recentemente o trabalho sobre papel, utilizando o suporte como um terreno sensível capaz de acolher afetos cromáticos mercuriais, vigorosos ou suavemente difundidos.
Juntos, Sister e Lambrecht apresentam a pintura não apenas como imagem, mas como um limiar onde a cor atinge sua carga expressiva máxima.