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Artista é o novo representado da Galeria Nara Roesler, que realiza sua primeira individual na América Latina

 

Um dos artistas mais originais e tecnológicos da atualidade, o francês Xavier Veilhan acaba de chegar ao Brasil como novo representado da Galeria Nara Roesler. Ele ganha sua primeira individual na América Latina, Horizonte Verde, na sede paulistana da galeria, entre 24 de agosto e 31 de outubro.


Desde o fim dos anos oitenta, a obra do Xavier Veilhan oscila entre classicismo formal e alta tecnologia, confrontando a herança modernista com o contexto contemporâneo. Por meio de um registro de formas, ele busca manter a tensão assintótica entre abstração e figuração; de um estado de espírito, a energia própria às épocas de transição tecnológica. Através de uma grande variedade de registros e meios, certos temas recorrentes, como a velocidade, o movimento ou o progresso técnico, são desenvolvidos por uma sintaxe formal moldável: os móbiles, os raios, as litografias ou as esculturas lapidadas feitas com scanners 3D.
 


Foi com a exposição no Castelo de Versalhes, na França, em 2009, depois da de Jeff Koons, que Veilhan chega ao reconhecimento internacional. Para essa primeira exposição individual na América Latina, depois de coletivas em Quito, Caracas, Montevidéu e em São Paulo, no antigo hospital Matarazzo (2014), Veilhan apresenta nos desenvolvimento de algumas de suas séries emblemáticas. Assim na Galeria Nara Roesler em São Paulo, uma grande instalação de litografias monocromáticas ocupa as paredes, fazendo fundo para um novo móbile, misturando elementos pintados à mão, uma novidade no trabalho do artista. Além disso, uma segunda sala traz uma instalação que articula quadros e esculturas, representando parentes do artista.
 
Entre as duas salas, uma linha de 1,40m que parte do chão liga os dois espaços, e corre ao longo das paredes como se fosse uma linha do horizonte. Embora seja artificial, esse processo visual unifica o espaço da galeria, transformando-o em palco: o público abandona sua posição de visitante passivo para se tornar tornar ator da máquina visual que é a exposição. Uma maneira de reiterar a herança da cena artística francesa dos anos noventa, que põe a exposição como um meio, mas também enfocando especificamente a ligação entre o modelo de uma experiência destacada e desenvolvida por Xavier Veilhan, da qual dados imateriais, espaço e movimento são componentes. Assim, a vertente da sua prática ligada ao teatro evidencia ao longo da exposição projetos recentes: a performance artística Systema Occam (2013), seu ultimo filme Vent Moderne (2015) e Architectones (2012-2014), um ciclo de intervenções in situ em edifícios emblemáticos da arquitetura modernista.
 
Se o desenvolvimento em paralelo de vários conjuntos de obras testemunha uma concepção de criatividade, elegendo o ciclo contra a ruptura, “Horizonte Verde” evoca uma evolução recente dentro do trabalho de Veilhan. Nela, a estética bem definida e faiscante dos anos 2000, um período caracterizado  pela predileção pelo aço inox ou a resina, dá lugar há alguns anos a um trabalho mais bruto e artesanal. Em São Paulo, os pedestais de madeira bruta, as esculturas de carbono, as litografias simplesmente penduradas nas paredes ilustram essa volta artesanal. Além do mais, destaca-se o retorno a um trabalho de ateliê coletivo, como o artista fazia na década de 1990, para a realização coletiva de pinturas.
 
Mais sensível, orgânica e frágil, a tonalidade dessa mudança reflete a entrada na nova era em que vivemos atualmente, caracterizada por uma inflexão na concepção de progresso. Este último não é tanto sinônimo de uma busca acelerada para uma conquista de um futuro utópico, mas de um desenvolvimento sutil, consciente da necessidade da integração harmoniosa com o ambiente. Chamado pelo filósofo Michel Serres de “idade doce”, essa nova era em andamento exige representações de acordo com esse conceito. As principais pesquisas de Xavier Veilhan gravitam ao redor dos processos de captação do real, em conjuntos técnicos e estéticos.