rio de janeiro 24.11.2015 - 13.2.2016

bruno dunley ruído,

bruno dunley

sem título, 2015

 

sobre

Bruno Dunley apresenta desdobramento de pesquisa dos dois últimos anos na primeira individual na Galeria Nara Roesler do Rio de Janeiro.

 

Bruno Dunley é o próximo nome a fazer sua primeira individual na Galeria Nara Roesler do Rio de Janeiro a partir do dia 25 de novembro. O desdobramento da pesquisa pictórica que o jovem artista fluminense vem realizando nos últimos dois anos, desde a exposição E, no Centro Universitário Maria Antonia (2013) dá corpo às cerca de dez obras que compõem a mostra.

 

Resultado da busca por uma narrativa que se dá no limite da pintura como linguagem, prescindindo da representação figurativa tradicional, o trabalho de Dunley mantém nesta mostra suas características anteriores. A materialidade da pincelada, o jogo de tensões entre planos de preenchimentos distintos (instabilidade x cor pura, rigor geométrico x traço solto) e a sobreposição de camadas seguem como os elementos significantes da narrativa que se constroi à margem da representação estrita.

 

Mas há novidades que mostram a evolução do trabalho do artista fluminense. O jogo com as cores iniciado na exposição anterior ganhou variações mais radicais, tonalidades mais intensas e até metálicos, além de intervenções diretas. “Chego a desenhar com carvão diretamente sobre a pintura”, diz o artista. Os tons mais pálidos, como o cinza, que tinha presença marcante na mostra anterior, foram minimizados em busca de uma vibração intensa. A acrílica surge como matéria-prima ao lado da tinta a óleo.

 

Os formatos também começam menores, com obras que vão desde os 24 x 30 cm a 150 x 200 cm. Quanto aos suportes, além das tradicionais telas, o papel Fabriano de baixa gramatura é outro elemento novo. Pela absorção da tinta, o óleo vaza pelas bordas e acrescenta mais um elemento à pintura, aplicada diretamente no suporte branco. Diferentemente das telas, em que o artista prepara a base com várias camadas de tinta para encobrir a trama do tecido.

 

“Minha relação com o trabalho está mais paciente”, define Dunley. Isso se comprova pela incorporação de mais óleo de linhaça à tinta, permitindo que ela corra mais facilmente e, ao mesmo tempo, seque mais devagar. Com isso, é possível pintar sobre a tinta fresca por mais tempo e delimitar menos as linhas que separam campos de cor e elementos gráficos abstratos.

 

O nome dos trabalhos acrescenta nova camada de sentido, que insinua uma narrativa por meio de sensações visuais em relação com palavras, como no caso de Drive-In (2015). A tela de 120 x 160 cm remete sutilmente aos faróis de um carro acesos à noite pelo campo de um rosa intenso centralizando a massa de tinta de azul profundo, cujas pinceladas são ora lineares, ora desgovernadas, como se estivessem apagando um plano anterior - outra característica da pintura de Dunley.

 

Com sua nova mostra, Bruno Dunley confirma-se como um dos nomes mais consistentes da nova geração da pintura, aliando técnica a uma sensibilidade aguçada não só para a arte, mas para seu tempo. Pela instabilidade da imagem e a fugacidade dos significados extraídos exclusivamente do jogo com os elementos circunscritos ao campo história da pintura, o artista evidencia o caráter de indefinição do mundo atual, indeciso entre aparência e essência.

 

 

Se é impossível chegar a uma representação do real graças às suas diversas camadas e o solipsismo do sujeito contemporâneo fica evidente na instabilidade da comunicação verbal, é possível e mesmo mais desejável tocar subjetividades pela relação entre a pintura e o olhar do espectador, relação essa que só se completa em foro íntimo de cada um. Sem fazer figuração, Bruno Dunley faz um retrato de seu tempo e vê além da superfície.