A Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro apresenta Retroatos, a primeira exposição de Cao Guimarães na sede carioca, e a sétima exposição desde quando começou a trabalhar com a galeria em 2002. Para esta mostra, o curador Ricardo Sardenberg selecionou 18 fotografias em diversas dimensões e um vídeo provenientes do arquivo do artista, concebidos ao longo de sua carreira em tempos e lugares distintos.
Nesta série, com sua inesgotável originalidade, Guimarães, traz para o retrato a chave de seu vocabulário poético “ver é uma fábula”, tão bem expresso no título de uma de suas retrospectivas (Itaú Cultural, 2013). Segundo Sardenberg, neste formato artístico clássico, Cao Guimarães omite justamente aquilo que primeiramente esperamos encontrar, ou seja, a representação do rosto de uma ou mais pessoas. “Ficaria para o espectador intuir aquilo que está ausente e presente ao mesmo tempo”, afirma.
Sardenberg ressalta, contudo que, em sua acepção corrente, o retrato é uma palavra ambígua quando se trata da fotografia, pois implica dois sentidos. Em sua primeira definição é a imagem de uma pessoa interpretada por meio da pintura, do desenho, da escultura, da fotografia etc. Mas no caso da fotografia, em
particular, qualquer imagem é um retrato. Pode-se tirar um retrato da paisagem, de um vaso de flor ou até mesmo de uma escultura. “É no vão do léxico que se insere a exposição Retroatos”, explica.
O curador sugere ainda que nesta zona de instabilidade da palavra retrato surge um segundo vão no léxico com a junção da palavra retro, que enseja o passado, o tempo que passou e não volta mais. Na história da fotografia, o retrato sempre esteve associado à memória, a um repositório de lembranças. Mas, lembra Sardenberg, ‘retro’ quer dizer antes de tudo, o verso, o outro lado no espaço. O que se insinua é a inversão do famoso ‘os olhos são as janelas da alma’ típico de retrato. “Assim o ‘retro’ alude tanto ao espaço como ao tempo”, completa.