a casa é sua: migração e hos(ti)pitalidade

paço imperial, rio de janeiro, brasil
30.3 - 26.6.2022

A casa é sua: migração e hos(ti)pitalidade fora do lugar é resultado de uma troca multicultural Sul-Sul que vem ocorrendo desde 2017, principalmente entre Líbano e Brasil.  O projeto volta seu olhar para a hospitalidade e as tensões nas relações hóspede-anfitrião do ponto de vista dos modos históricos e contemporâneos de migração específicos para esses dois contextos globais do Sul e que repercutem com práticas xenófobas globais mais amplas em relação ao “outro” que não é apenas o refugiado ou migrante.

 

A exposição apresenta trabalhos de dezenove artistas e coletivos internacionais e inclui obras site specific encomendadas para espaços públicos da cidade do Rio de Janeiro.  As obras  tratam do tema da migração, entendida como forma de movimento, deslocamento, fluxo, ocupação ou transferência voluntária ou forçada de pessoas, espécies e outros corpos e materiais animados ou inanimados, revelando tensões aparentes ou interpretativas de hospitalidade, que podem ser interpretadas de modo formal, conceitual ou discursivo. 

 

Comissionada para a exposição, a intervenção pública de Marcos Chaves consiste em plantar um pé de tâmara “imigrante”, um forte símbolo de generosidade e fertilidade, na praça do Mascate entre outras palmeiras locais pré-existentes. A praça fica localizada no SAARA, região do Rio de Janeiro onde muitos imigrantes do Oriente Médio se firmaram no início do século XX.

 

Próxima à tamareira, uma placa está instalada portando frases em português, inglês e árabe. As três frases formam jogos entre as palavras usadas nos diferentes idiomas. Em inglês “Let’s have a date in SAARA?”, a palavra “date” refere-se tanto a um encontro social ou romântico, quanto pode ser entendida como o fruto da tamareira naquele idioma. Daí a frase em português “Vamos comer uma tâmara no SAARA?”. SAARA, por sua vez, é tanto a região comercial do Rio, quanto o deserto africano.  Por isso, a frase em árabe, que pode ser traduzida por “Vamos nos encontrar no deserto”, refletindo, de forma bem humorada, os erros típicos que os iniciantes cometem ao serem introduzidos a um novo idioma. No Paço Imperial, o público encontra a mesma placa, em dimensões menores.

 

Chaves também colaborou com a Rádio SAARA na criação de uma intervenção sonora, resultado da compilação e gravação, com sua própria voz, de frases e provérbios. Estas, são transmitidas no rádio por todas as ruas do SAARA, durante o período da exposição.

 

As formas como esse projeto vêm possibilitando a permeabilidade e a transformação para responder às atuais questões políticas, necessidades sociais e temas prementes relacionados à hospitalidade é um experimento de natureza curatorial que posiciona a exposição em si como anfitriã e como hóspede em relação ao contexto em que está ocorrendo.