josé patrício por ele mesmo

Artista pernambucano lança o livro autoral 'Percursos de Criação', em comemoração aos seus 40 anos de carreira e apresenta aos leitores as pesquisas e inquietações que levaram à produção de sua obra artística
youtube nara roesler
13.7.2021

O exercício de escrever sobre a própria trajetória nas artes pode ser desafiador: memórias, sentimentos e mudanças de compreensão consequentes do tempo são obstáculos para se chegar a uma síntese. Entretanto, o artista plástico pernambucano José Patrício aceitou essa provocação no livro Percursos de Criação, que terá lançamento online, no dia 13 de julho, às 18h, no canal do Youtube da galeria Nara Roesler. Com edição do crítico, curador e professor da UFRJ Felipe Scovino, a publicação contou com incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e traz um encontro entre autor, biografia, pesquisa e conjunto da obra num modelo de livro de arte.


Na publicação, que é bilíngue, em Português e Inglês, José Patrício escreve sobre suas descobertas, investigações e experimentações com papel artesanal, dominós, dados, botões, peças plásticas de jogos, entre outros objetos oriundos do comércio popular e de situações corriqueiras que acompanham a vida dos brasileiros. Seguindo, quase sempre, uma lógica matemática ou geométrica, as combinações propostas pelo artista em suas obras geram imagens imprevistas, que se configuram ao longo das montagens e se aproximam muitas vezes das características da pintura e da escultura.


O livro aborda as fases de produção, cataloga obras e séries e, acima de tudo, traz o olhar particular do autor, além de contar com várias imagens de arquivo, de obras e um texto acessível, num projeto gráfico leve e atrativo. A inspiração inicial do livro foi a dissertação de mestrado defendida por José Patrício em 2014, no Programa Associado de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Pernambuco. Algumas partes da dissertação foram reescritas e readaptadas a uma linguagem mais acessível, às quais se somam textos novos, escritos pelo artista exclusivamente para o livro. Todo o material foi cuidadosamente preparado pela equipe de edição liderada por Felipe Scovino, mas composta também por Julya Vasconcelos e Bruna Pedrosa.


Ao nos debruçarmos sobre a obra, vemos que o artista situa o seu trabalho no contexto histórico da arte pernambucana e nacional, com início na Escolinha de Arte do Recife (EAR), na década de 1970, e segue em sua expansão nacional e internacional, com destaque para o prêmio do 11º Salão Nacional de Artes Plásticas, a participação na 22ª Bienal de São Paulo, bem como exposições por todo o Brasil e no exterior, em países como Alemanha, Noruega, França, Bélgica, Espanha, Chipre, Argentina, Estados Unidos, China e Hong Kong. Além disso, no livro há imagens de obras que fazem parte de coleções importantes, como o Acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Coleção Gilberto Chateaubriand (MAM-RJ), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Coleção João Sattamini (MAC-Niterói), Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM-Recife) e Fundação Cartier (Paris).


O leitor poderá conhecer detalhes de séries icônicas, como 112 dominós (1999) e Ars combinatoria (1999/2000), assim como trabalhos menos conhecidos, como Série Negra (1998), Estrutura modular II (1986) ou as obras da série Composições, em papel artesanal, produzidas no início dos anos 1980. “Eu sempre me senti atraído pelas possibilidades modulares dos materiais para compor minhas obras. No começo usei bastante papel artesanal, depois passei a utilizar objetos extraídos do cotidiano. Minha pesquisa foi evoluindo a partir, sobretudo, da matemática e da geometria que me guiaram na composição de espirais, movimentos de expansão e retração e na exploração de possibilidades pictóricas não convencionais”.


Segundo Felipe Scovino, Percursos de Criação é um livro que se converte em obra e vice-versa, no momento em que traz a palavra do próprio artista. Para ele, “algo tão celebrado em cartas (vide as mesmas trocadas entre Theo e Vincent Van Gogh), manifestos, agendas, diários, bilhetes, faxes, e-mails, entre tantos outros meios de correspondência e fixação de ideias e imagens— se tornou, eu diria, ao longo do século XX, mais sistematicamente, uma dobra do seu trabalho plástico”.


O livro será distribuído gratuitamente a instituições, bibliotecas, críticos e curadores de arte, mas também estará à venda na Livraria Jaqueira, no Recife, com envio para todo o Brasil, na livraria online da galeria Nara Roesler, e na Galeria Amparo 60, na capital pernambucana.


Para conhecer mais as obras do artista, vale uma visita à exposição José Patrício: Potência Criadora Infinita, em cartaz até 24 de julho, na galeria Nara Roesler, na Av. Europa, 655, Jardim Europa, em São Paulo, ou conferir o site www.josepatricio.com e o Instagram @josepatriciooficial.