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A Nara Roesler tem o prazer de levar à ArPa 2025 uma apresentação individual da artista Mônica Ventura, reunindo obras inéditas que expandem sua investigação sobre ancestralidade, espiritualidade e saberes vernaculares.

Entre os destaques, a série Noite Suspensa dá continuidade à instalação homônima apresentada em Inhotim, em 2023. A partir da experiência imersiva proporcionada pela obra, Ventura expressa o desejo de transpor sua monumentalidade para a superfície da tela – não como simples exercício formal, mas como tentativa de preservar a potência onírica e espiritual do espaço original. Nas pinturas que compõem a série, a noite surge como tempo simbólico de sonho e escuta, enquanto os corpos-objeto evocam presença, rito e transformação.

A artista apresenta também PORVIR, 2025, instalação composta por bambus pintados de preto com detalhes em folha de ouro. A obra remete a uma instalação anterior, De amanhã para ontem (2020), e reafirma o interesse de Ventura pelos aspectos espirituais e simbólicos do bambu — material que, em sua prática, transforma-se em suporte e signo, evocando a religiosidade da natureza e estabelecendo conexões com a afro-cosmovisão.

Em outra frente, a artista apresenta as esculturas em cerâmica da série Passarinhas, inspiradas na forma da cabaça – elemento que ressurge como memória latente da infância, transformado por Ventura em estruturas fragmentadas e recombinadas. Criadas a partir de moldes em porcelana líquida, as formas são desmembradas e reorganizadas como num quebra-cabeça, em um gesto intuitivo que investiga os vínculos entre memória, matéria e afeto. 

A forma e potência simbólica das cabaças também deram origem a uma nova investigação pictórica, apresentada pela primeira vez nesta edição da ArPa. Nela, Ventura explora formas fluidas e ritmos cromáticos que evocam as múltiplas camadas do feminino – como ciclos, nuances e contrastes que coexistem em tensão entre figura e fundo, quente e frio, luz e sombra.

A artista apresenta ainda Despertar pro anoitecer, um conjunto de painéis de taipa de pilão em pequeno formato, concebido especialmente para a ocasião. Neles, Ventura incorpora símbolos do sistema visual Adinkra – tradição gráfica de origem africana – impressos em baixo-relevo. Mais do que ornamentos, esses signos atuam como inscrições de resistência e reconexão com modos de viver e construir que desafiam a lógica colonial.

Com uma prática que atravessa escultura, pintura e instalação, Mônica Ventura constrói um espaço de escuta e reconexão, onde força e delicadeza se entrelaçam — criando um “belo ruído organizado” que convoca à reflexão sobre identidade, corpo e território.