Biografia

Nascida no Japão, Ogawa passou parte da infância e adolescência em Petrópolis, no Rio de Janeiro, cidade natal de sua família materna. Depois, a artista completou seus estudos na Suécia e graduou-se na Central Saint Martins College, em Londres, e atualmente vive em Los Angeles, nos Estados Unidos. A diversidade cultural que permeou seus anos de formação teve grande impacto em sua produção artística, que incorpora diferentes referências visuais, crenças e tradições. 

 

Mesmo em meio a tantos trânsitos, seu trabalho se debruça justamente sobre  seus dois pontos de partida: Japão e Brasil. Suas cenas, construídas por meio de cores saturadas, luminosidade intensa e fundos neutros, apresentam personagens e elementos agrupados no primeiro plano, combinando tonalidades contrastantes em composições diretas. Os fundos abstratos e planos das cenas parecem situá-las em um universo atemporal, de aspecto onírico e fantástico e, ainda que possam existir interações entre os personagens e outros elementos, estas são bastante sutis, mas insinuam do que revelam em atmosferas silenciosas. 

 

Asuka povoa suas composições com figuras andróginas com rostos cuidadosamente construídos e olhos amendoados que parecem mirar para além dos limites da tela. Quando interagem entre si, a ênfase recai sobre as trocas de olhares.  Já a serenidade e o silêncio que transparecem nas composições, tem forte ligação com o processo de aprofundamento, por parte da artista, em práticas meditativas e espirituais. 

 

Em Listening, uma personagem se apoia sobre uma árvore e inclina a cabeça para a esquerda, como se estivesse escutando algo que a árvore teria a ensinar. Desta, parecem sair seres ou espectros misteriosos. Estes mesmos espectros, voltam a aparecer em Kaori. Neste trabalho, dois personagens, aparecem muito próximos: enquanto a mulher está deitada, o homem está ajoelhado, segurando um pequeno elemento que parece disparar um jato de cor branca, que termina por dividir a composição. Das cabeças de ambos saem espectros ou entidades, que parecem ir um em direção ao outro. 

 

As imagens retratadas por Ogawa remetem, sobretudo, à sua ancestralidade japonesa e afro-brasileira. "Embora eu não tenha um tema quando pinto, estou sempre pensando em minha mãe, avó e bisavó, e na beleza, força, luta e amor de nossos ancestrais", disse a artista por ocasião de sua primeira exposição no Brasil, na Nara Roesler São Paulo, em 2024. 

 

A influência do legado ancestral na produção de Ogawa é visível não só através dos diversos elementos e detalhes presentes em suas telas, tais como vestimentas, adereços, objetos e animais cuidadosamente inseridos em suas composições, como também através da representação de  situações cotidianas e temas relacionados ao afeto, criando obras ambíguas e misteriosas carregadas de simbolismos que a conectam às suas diversas raízes.