A Galeria Nara Roesler apresenta Refazer, a primeira individual de Alexandre Arrechea em seu espaço, para inaugurar o calendário de 2017. A mostra reúne cerca de 30 trabalhos do prestigiado artista cubano. Fundador e membro (de 1991 a 2003) do coletivo artístico cubano Los Carpinteros, Arrechea apresenta na sede paulistana da galeria um novo projeto, no qual reconstitui as principais ideias que vem desenvolvendo nos últimos quatro anos. São grandes murais aplicados diretamente na parede da galeria, desenhos/aquarelas e esculturas. Segundo ele, Refazer retoma a questão do mapa e do fragmento, eixos centrais de sua investigação.
Concebidas como uma grande instalação, os trabalhos de Refazer dialogam entre si e estabelecem uma analogia ao processo de preparação do solo para o cultivo no campo. “Meu objetivo é desenvolver os processos análogos com a pintura, a escultura e a instalação, mantendo as superfícies das obras abertas à possibilidade de serem transformadas outra vez, assim como acontece com os terrenos arados”, diz o artista. Segundo ele, ainda, esta ação se sucede com cada novo plantio, por isso mesmo que elegeu esse método para instalar as obras em superposição.
Na exposição haverá um grande mural como ponto de partida que simula um campo arado. Sobre ele serão colocados as aquarelas e os objetos. Cada elemento sobre o mural funcionará como uma nova afirmação, uma nova representação do terreno anterior, conseqüentemente um novo território a inaugurar nova possibilidade. “Valendo-me desta fórmula poderíamos gerar um mapa de variações infinitas. Um método circular de entender a realidade, que se subverte uma e outra vez, no qual cada obra constitui uma afirmação que não nega a anterior, completa”.
A obra de Alexandre Arrechea destaca-se por empregar metáforas visuais para temas sociais da atualidade como desigualdade, marginalização cultural e o polêmico lugar da arte numa sociedade globalizada e centrada na mídia. Assim como muitos artistas de sua geração, manipula símbolos e materiais de modo ambivalente, fazendo com que o espectador deixe a obra sem ter um ponto de vista específico. A disseminação dos sistemas de vigilância e a obsessão por controle existentes na atualidade foram grande fonte de inspiração para os trabalhos que o artista começou a realizar em 2003. Suas pesquisas sobre as relações entre o público e o privado o levaram a desenvolver uma produção que lida com perda de privacidade, fragilidade, memória e o fracasso do controle e do poder. Obras como The Garden of Mistrust (2003-2005) e Perpetual Free Entrance (2006) se ocupam, até certo ponto, de problemas de acessibilidade ou abordagem relativos a obras de arte.
Na Bienal de Havana de 2012 sua obra consistia em uma casa de aço dividida em onze seções. A extensão das paredes ou a separação entre elas mudava diariamente, dependendo das altas ou baixas do índice econômico Dow Jones. Em 2015 ocupou a Park Avenue em 2013, surpreendendo Nova York, com 10 esculturas em grande escala representativas de edifícios icônicos da cidade, como o Chrysler Building, o Citicorp Center, o Empire State Building, entre outros. Na última edição da Bienal cubana, em 2015, ganhou uma grande individual no Museu Nacional de Belas Artes, em Havana, O Mapa do Silêncio, na qual com vídeos, instalações, pinturas e painéis, afirmava a sua ideia de silêncio: “o silêncio pode ser por boas ou más causas e essa exposição procura ser um mapa dos múltiplos silêncios”. Com esta exposição Arrechea foi prestigiado com o prêmio de melhor artista cubano pela Fundación Farber.