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A galeria Nara Roesler apresenta sua primeira exposição do artista brasileiro Daniel Senise desde que passou a representá-lo, em 2016. A curadoria é de Brett Littman, Diretor Executivo do The Drawing Center, de Nova York. 

 

Desde a década de 1990, Senise trabalha com o que pode se chamar de “construção de imagens”. O processo começa com a impressão de superfícies e objetos – como pisos de madeira ou paredes de concreto – sobre tecido. Os impressos são reunidos num arquivo no ateliê do artista e posteriormente recortados e instalados em painéis de alumínio, para servirem de pano de fundo ou como elementos arquitetônicos estruturais de composições espaciais complexas. Algumas das obras de Senise são compostas de diversos fragmentos impressos, reunidos ao longo de vários anos. Painéis rejeitados são muitas vezes recombinados e retrabalhados, com a inclusão e a retirada de elementos de tecido, para serem incorporados a novas ideias desenvolvidas pelo artista em seu ateliê.

 

Senise vem investigando estratégias de composição mais redutivas desde 2011, quando criou a instalação de grandes dimensões 2892: duas paredes brancas altas com lençóis manchados, vindos de uma UTI de hospital e de um motel, sustentadas por estruturas de madeira. Esta obra, em que tecidos impressos foram substituídos por lençóis lanchados, faz uma referência visual às mortalhas e aos trabalhos em branco sobre branco de artistas como Kazimir Malevich e Robert Ryman.  Posteriormente, em 2011, Senise iniciou uma nova série, Quase aqui, na qual usou uma tábua de madeira espessa como mesa em seu ateliê, registrando nela os cortes e marcações feitos por ele próprio e por seus assistentes durante um determinado período. Em seguida, preencheu, lixou e pintou de branco, com aerógrafo, uma grande área retangular no centro do painel, criando um vazio óptico. Os trabalhos da série são muito sutis e não contêm quase nenhum conteúdo visual que possa ser lido com facilidade – 

é preciso olhar de perto para compreender, de fato, o processo de criação. Em 2013, após a morte de seu pai, Senise inaugurou a série Biógrafo, com 85 painéis. Visualmente, a série tem em comum com Quase aqui a introdução de uma forma retangular no centro da composição. No entanto, aqui o artista reintroduz a impressão em tecido e os trabalhos são muito mais densos e opticamente desestabilizadores, pois ele gira os painéis durante sua construção e, assim, altera constantemente a perspectiva. Em 2014, Senise deu início a uma série de pinturas baseadas nos interiores de museus famosos. A série começa com painéis densos, como National Gallery, de 2014, e Gemäldegalerie, exposto em Berlim, também em 2014, e tenta representar elementos arquitetônicos com molduras vazias nas paredes. Gradualmente, o artista começa a subtrair materiais, em trabalhos como Siza I and II, de 2014, e Hermitage, de 2017, mantendo apenas um mínimo de referências visuais que permitem ao espectador identificar a arquitetura dos museus em questão.

 

As pinturas em exposição na Nara Roesler apresentam um Senise em transição – equilibrando seus impulsos redutivos mais recentes e sua implacável busca interna por novas maneiras de criar imagens. O conjunto de obras na ampla galeria indica claramente a dualidade polarizada da produção atual do artista. Billboard, Billboard 1 e Escultura, todas de 2016, apresentam estratégias de composição semelhantes. Aqui, Senise trabalhou com painéis concluídos mais antigos e, ao longo do tempo, retirou ou recortou os elementos de tecido para expor o substrato de alumínio e todas as marcas e os riscos feitos durante sua criação e subsequente desconstrução. Essas três obras estendem as investigações sobre subtração, “desfeitura” e a revelação do tempo pelas marcas/manchas iniciadas por Senise em 2011, na instalação 2892, na série Quase Aqui e em seus trabalhos mais recentes com interiores de museus. Ademais, a forma do outdoor, essencialmente um retângulo que flutua no espaço, remete à geometria de Quase Aqui e da série Biógrafo.

 

Em Skylight, Night Studio (ambas de 2017) e A Floresta do Livre Arbitrio, de 2016, Senise volta a um tema e a uma imagem familiares em sua obra – seu próprio ateliê. Nestes trabalhos, porém, o ateliê representa a busca interior por novos métodos de composição e novas formas de ver. São paisagens pessoais em que o ateliê representa o lugar de isolação e solidão onde o artista pode contemplar o espaço, o tempo, a luz e o céu noturno. Estas obras são mais visualmente e estruturalmente ativadas, mas também contêm materiais removidos e substratos expostos, bem como referências ao retângulo que as une inextricavelmente a Billboard e Escultura.

 

A nova exposição também inclui três novos trabalhos da série Biógrafo (LV, LXXVII e LXXXIV, de 2017) e dois painéis menores sem título, produzidos em 2016 e 2017, mais intimamente relacionados ao trabalho graficamente cumulativo de Senise da década de 2000. 

Vistas da Exposição

vista da exposição -- 

galeria nara roesler | são paulo, 2017