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A Galeria Nara Roesler | São Paulo tem o prazer de abrir seu calendário de exposições, em 2020, com mostra individual de Abraham Palatnik. Aos 91 anos de idade e com sete décadas de produção, Palatnik é reconhecido internacionalmente por suas experimentações técnicas, que vão da construção de intricados dispositivos maquínicos, como o Aparelho cinecromático e os Objetos Cinéticos, à elaboração de métodos inovadores para a produção de pinturas. Um exemplo desse último caso é a série W, na qual vem trabalhando desde 2004. Esse conjunto de trabalhos marca a primeira inclusão de um procedimento não manual – o corte a laser – em sua prática, o que não exclui o acentuado caráter artesanal envolvido no processo de composição. A mais recente inovação, foco desta exposição, é a combinação da tinta acrílica, usualmente empregada, com a tinta esmalte dourada, misturando qualidades óticas bem diferentes na mesma pintura.

 

A Galeria Nara Roesler foi a primeira a expor essa série, ainda em 2004, quando ela começou a ser produzida, e a apresenta novamente, quinze anos depois, junto a uma seleção de trabalhos históricos. Poderão ser vistas desde investigações iniciais, como uma paisagem do princípio de sua carreira, até as abstrações dinâmicas da série W. Essa visão articulada de diferentes fases e técnicas tem como objetivo proporcionar ao público uma perspectiva ampliada e integrada das questões presentes em sua prática, o que possibilita a compreensão do papel central que a pintura possui como fio condutor da trajetória artística de Palatnik.

 

Os trabalhos da série W são desdobramentos dos Relevos progressivos que o artista desenvolve desde a década de 1960. O aspecto central desses últimos reside na investigação das potencialidades dos materiais utilizados nas composições. Já na série W, o artista começa realizando duas pinturas abstratas sobre placas de madeira que, ao serem finalizadas, são cortadas a laser em tiras regulares. Palatnik, então, reúne as partes de ambas pinturas, intercalando-as e promovendo seus deslocamentos verticais, de modo a construir um terceiro trabalho a partir delas. Desse modo, as cores são reativadas, e o efeito de movimento da composição se amplia e renova, demonstrando grande potência visual e poética. A vibração do trabalho, ainda, convoca o corpo do espectador, ao instar sua movimentação ao seu redor. Dele se aproximando e distanciando, o público vê sua percepção ser continuamente alterada, em um processo que libera os sentidos possíveis da obra.

 

A produção de Palatnik já esteve em importantes exibições no Brasil e no exterior, entre elas a 32a Bienal de Veneza (1964), além de oito edições da Bienal de São Paulo, entre 1951 e 1969. A exposição na Galeria Nara Roesler | São Paulo comprova a capacidade do artista de reiventar sua prática, seu compromisso com a experimentação, sem deixar de lado o rigor da execução que, mesmo se valendo de preceitos técnicos e mecânicos, sempre soube dividir espaço com a intuição e criatividade. Com a mostra, comemoram-se também vinte anos desde a realização da primeira individual de Palatnik na Galeria Nara Roesler.